Em um cenário onde a vigilância digital se torna cada vez mais sofisticada, a Apple emitiu alertas considerados os mais sérios dos últimos anos. Usuários de iPhones em cerca de cem países foram notificados sobre possíveis tentativas de infecção por spyware mercenário, com foco em indivíduos de alto perfil, como políticos, jornalistas e ativistas. Esses avisos foram enviados por e-mail, iMessage e durante o login do Apple ID, em uma medida preventiva da empresa frente aos ataques silenciosos que não exigem qualquer interação do usuário.
Pontos Principais:
A origem dessa preocupação crescente veio à tona após a análise da iVerify, empresa especializada em segurança digital, que investigava um possível ataque a iPhones ligados à equipe da ex-vice-presidente americana Kamala Harris. A investigação revelou uma brecha sofisticada, batizada de NICKNAME, escondida no processo imagent do iOS, permitindo manipulações em anexos do iMessage em questão de segundos — algo inédito até então. A falha foi corrigida no iOS 18.3, mas seus impactos continuam reverberando.
O caso expôs o uso de técnicas zero-click — quando o dispositivo é comprometido sem que o usuário clique em nada — em campanhas de espionagem direcionada. A Apple confirmou que a maioria dos usuários nunca enfrentará esse tipo de ameaça, mas reforçou que dispositivos desatualizados são alvos mais vulneráveis. A recomendação da empresa é manter o sistema atualizado, usar senhas fortes e ativar a autenticação de dois fatores.
Entre os nomes afetados conhecidos estão o jornalista italiano Ciro Pellegrino e a comentarista política holandesa Eva Vlaardingerbroek. Relatos apontam que os ataques miravam alvos de interesse geopolítico da China, incluindo membros do governo dos Estados Unidos e da União Europeia. As atividades anômalas começaram no fim de 2024 e se estenderam ao longo de 2025, sem deixar rastros tradicionais — um padrão comum em ataques de alto nível.
A iVerify relatou que, de uma amostra de 50 mil iPhones, apenas 0,0001% apresentaram registros de falhas semelhantes. Mesmo assim, a vulnerabilidade levantou preocupação global. O alerta da Apple reforça o precedente do caso Pegasus, em que líderes mundiais, como Emmanuel Macron, foram identificados como alvos de spyware. Agora, com a falha no iMessage, o risco atinge novamente figuras estratégicas e com poder de decisão política.
A gravidade da situação se ampliou após revelações da ABC News e do SAPO Tek, indicando que os ataques foram atribuídos a hackers ligados ao governo chinês. Em dezembro de 2024, o Departamento do Tesouro dos EUA também foi invadido, com 400 computadores comprometidos e mais de 3 mil arquivos extraídos, segundo investigações. O padrão de atuação inclui tentativas de acesso a mensagens de texto, voz e dados sensíveis de forma invisível.
As autoridades dos EUA, incluindo membros do Congresso, afirmam que empresas chinesas continuam explorando brechas em infraestruturas críticas, apesar das restrições comerciais e exclusão das redes de telecomunicação. Ao mesmo tempo, a China acusa os EUA de operarem sua própria rede de ciberespionagem e de usarem a segurança nacional como justificativa para sanções e bloqueios econômicos.
A disputa entre os dois países amplia o alerta sobre a segurança digital de dispositivos móveis, que hoje são usados não só para comunicação, mas também para tarefas críticas como controle de drones, sistemas de energia e acesso a dados confidenciais. A Apple, em resposta, mantém sua parceria com a ONG Access Now para fornecer assistência a vítimas de spyware, mas reconhece os desafios de proteger completamente seus sistemas.
A vulnerabilidade NICKNAME, agora neutralizada, mostrou o quanto as falhas técnicas podem ser exploradas por agentes estatais com objetivos de vigilância e manipulação. Com o avanço da inteligência artificial e a intensificação do uso de plataformas móveis, o campo da cibersegurança se torna uma arena geopolítica. O caso acende um sinal amarelo para governos, empresas e usuários comuns: a proteção digital precisa ser contínua, colaborativa e estratégica.
Com informações de G1, Correiobraziliense, Macmagazine e Tek.