Sly Stone, figura central da música americana nas décadas de 1960 e 1970, morreu nesta segunda-feira (09/06/2025), aos 82 anos, após enfrentar complicações causadas por DPOC e outras doenças crônicas. O artista morreu cercado pelos filhos e pessoas próximas, encerrando uma trajetória marcada por inovação artística, influência cultural e conflitos pessoais. A confirmação do falecimento foi feita pela família, que também revelou que Stone havia finalizado recentemente o roteiro autobiográfico de sua vida.
Pontos Principais:
Stone, nascido Sylvester Stewart no Texas em 1943, começou a cantar ainda criança, ao lado dos irmãos no grupo Stewart Four. Durante a juventude, tornou-se figura ativa na cena musical da Califórnia, atuando como DJ e produtor antes de fundar a banda Sly & the Family Stone. A partir de 1967, o grupo passou a ser um dos protagonistas da música pop americana, quebrando barreiras raciais e estilísticas. Misturando rock psicodélico, funk, gospel e soul, a banda criou sucessos como Dance to the Music, Everyday People, Family Affair e Thank You (Falettinme Be Mice Elf Agin).
Em paralelo à construção de sua reputação artística, Sly Stone enfrentava dificuldades pessoais e profissionais. Ainda que seu trabalho fosse celebrado pelo caráter inovador, a relação instável com colegas, somada ao uso de drogas e a cancelamentos frequentes de shows, fez com que a carreira desandasse a partir da década de 1970. Mesmo assim, sua obra se manteve como referência para gerações futuras de músicos em gêneros como o hip hop, o R&B e o funk contemporâneo.
A banda Sly & the Family Stone foi criada na fusão de dois projetos: Sly and the Stoners, liderado por Sly, e Freddie and the Stone Souls, comandado por seu irmão. O resultado foi um grupo multirracial e com homens e mulheres em sua formação, algo raro na época. Entre os membros mais notórios estavam Freddie Stone, Rose Stone, Larry Graham, Cynthia Robinson, Greg Errico e Jerry Martini. O primeiro sucesso veio com Dance to the Music, de 1968, que apresentou ao mundo uma sonoridade ousada, com solos distribuídos entre todos os instrumentos.
O ápice criativo do grupo ocorreu entre 1968 e 1971, período em que lançaram obras que se tornaram símbolos de um momento de efervescência cultural nos Estados Unidos. O álbum There’s a Riot Goin’ On, lançado em 1971, retrata com crueza as frustrações do pós-Woodstock, misturando arranjos eletrônicos, drum machines e um lirismo sombrio. Ainda assim, o som mantinha apelo popular, e o disco figurou entre os mais respeitados da época.
O show no festival de Woodstock, em 1969, foi outro ponto alto da banda. A apresentação de I Want to Take You Higher durante a madrugada virou símbolo da proposta musical de Sly Stone: unificar públicos distintos por meio de uma música que celebrava a diversidade e refletia os conflitos sociais do período. As performances ao vivo, quando aconteciam, eram intensas e provocavam grande resposta do público, mas a frequência irregular e o comportamento imprevisível acabaram gerando desgaste interno.
Após o sucesso no início dos anos 1970, a banda foi se desintegrando. Sly Stone passou a gravar grande parte dos discos sozinho, com uso intensivo de overdubs e equipamentos eletrônicos. A relação com os demais integrantes foi se deteriorando, e, em 1975, a Family Stone deixou de existir formalmente. Stone ainda lançou discos solo, como Heard Ya Missed Me, Well I’m Back (1976) e Back on the Right Track (1979), mas sem a mesma repercussão.
Durante os anos 1980, Stone foi preso diversas vezes por porte de drogas e permaneceu recluso durante longos períodos. Em 1993, foi incluído no Rock & Roll Hall of Fame, mas seu comportamento errático impediu um retorno consistente à cena musical. Em 2006, subiu ao palco brevemente em um tributo durante o Grammy, mas deixou a apresentação minutos depois, sem explicações.
Nos anos seguintes, relatos apontaram que vivia em um trailer nos arredores de Los Angeles, com ajuda de amigos. Ainda assim, seguia compondo e prometia o lançamento de novas músicas. Em 2011, lançou I’m Back! Family & Friends, com releituras de antigos sucessos e faixas inéditas, que não tiveram grande impacto comercial. Sua autobiografia, Thank You (Falettinme Be Mice Elf Agin), saiu em 2024 e serviu como base para o documentário Sly Lives!, lançado em 2025 com direção de Questlove.
Apesar dos longos períodos longe dos holofotes, Sly Stone nunca deixou de ser lembrado como referência criativa. Sua abordagem rítmica, sua estética sonora e a mistura de gêneros ecoaram em artistas como Prince, George Clinton, Red Hot Chili Peppers, D’Angelo, Lauryn Hill e The Roots. A influência de Stone foi decisiva na transição da soul music para o funk moderno e até para o hip hop, moldando os rumos da música negra nos Estados Unidos.
Sua morte ocorre pouco mais de um ano após o lançamento de seu documentário e representa o encerramento definitivo de uma era. Stone deixa três filhos: Sylvester Jr., com Kathy Silva; Sylvyette, com Cynthia Robinson; e Novena Carmel. A família informou que o roteiro de sua cinebiografia está pronto e deverá ser transformado em filme em breve.
O legado de Sly Stone será lembrado não apenas pelas canções que marcaram época, mas também por sua luta contra os próprios fantasmas. De figura revolucionária na música a símbolo de uma geração em transformação, sua trajetória permanece como capítulo essencial da história cultural americana.
O documentário Sly Lives! deverá ser reapresentado nos próximos dias em homenagem ao músico. A expectativa é de que canais como HBO ou plataformas como Max ou Apple TV+, que já trabalharam com projetos dirigidos por Questlove, transmitam a produção novamente em breve. O palpite de críticos e jornalistas que acompanharam de perto o lançamento da obra é que o filme servirá como porta de entrada para que novas gerações conheçam não só os sucessos da Family Stone, mas também os dilemas que marcaram a vida de seu criador.
A produção cobre as transformações do artista, os bastidores de sua criação mais famosa e os anos de isolamento. O foco do longa está no impacto de sua obra e no peso emocional que sua genialidade lhe trouxe. A recepção inicial do público e da crítica foi positiva, com destaque para os depoimentos de figuras históricas da música que conviveram com ele.
A última entrevista registrada foi com Questlove, que disse que Sly parecia estar num bom momento mental recentemente e que havia retomado planos para novos lançamentos. A notícia da morte, por isso, surpreendeu parte dos fãs mais próximos. A projeção é que, nas próximas semanas, playlists e tributos ao artista ganhem destaque em rádios, canais musicais e plataformas de streaming.
Fonte: Flickr, Rollingstone e Theguardian.