O lançamento do novo Nissan Kicks 2026 foi uma resposta clara da marca ao avanço dos SUVs compactos mais equipados, porém o primeiro aumento de preços veio rápido e muda o jogo. Em novembro, quase todas as versões do Kicks subiram de valor, algo entre R$ 2.000 e R$ 2.300, e isso acontece num momento em que o modelo ainda está construindo seu espaço nas lojas. O leitor que acompanha o segmento percebe, de cara, uma contradição, o carro novo fica mais caro enquanto a geração antiga, vendida como Kicks Play, continua saindo mais que ele.
A nova tabela coloca o Kicks Sense 220T como porta de entrada a R$ 166.990. Acima dela vem a Advance, por R$ 177.990, seguida da versão mais completa abaixo do topo, que ficou em R$ 184.790. A única que não mexeu foi a Platinum, mantida em R$ 199.990, escolha que não é por acaso. A Nissan preserva esse valor para seguir atendendo o público que compra com isenção e para não romper a barreira psicológica dos 200 mil, detalhe que costuma pesar na negociação. Ou seja, há estratégia de produto por trás do reajuste, não foi só correção de tabela.

O ponto é que esse aumento chega enquanto o Kicks novo ainda precisa se provar. A própria imprensa automotiva registrou que, em setembro, cerca de dois terços das vendas do Kicks ainda eram da carroceria antiga. Isso revela que o mercado não rejeitou o modelo novo, mas está sensível ao preço. Quem compra o SUV da Nissan costuma olhar custo mensal, seguro e, principalmente, o que entra no pacote. Quando a diferença entre o antigo e o novo passa a ser de várias dezenas de milhares de reais, a escolha racional pende para o que está mais barato, mesmo que o design não seja o mais novo.
Em conteúdo, o Kicks 2026 entrega bastante. Mesmo a versão de entrada já traz faróis de LED, ar digital automático, painel com tela, central multimídia de 12,3 polegadas com conexão sem fio, frenagem automática, controle de cruzeiro adaptativo e assistente de permanência em faixa. Isso coloca o SUV no grupo dos mais equipados da categoria sem obrigar o cliente a subir tanto de versão. Nas configurações superiores, aparecem câmera 360 graus, carregador por indução, acabamento mais caprichado e, no topo, itens de conforto e som que aproximam o carro de propostas mais caras.
A mecânica é outro ponto que pesa na avaliação. Toda a linha usa o motor 1.0 turbo flex de três cilindros, o mesmo da aliança com a Renault, combinado a um câmbio automatizado de dupla embreagem e seis marchas. O conjunto rende até 125 cavalos e torque acima de 22 mkgf com etanol. É moderno, eficiente e suficiente para o uso urbano, porém quando o preço passa de 170 mil reais o consumidor brasileiro começa a comparar com SUVs de motor maior, algumas opções com câmbio automático convencional e até com modelos médios de entrada. A conta, para parte do público, fica apertada.
O que a Nissan faz agora é um movimento de posicionamento. Ao reajustar o Kicks mesmo com a geração antiga vendendo mais, a marca sinaliza que quer manter o novo SUV em uma faixa mais alta, próxima de T Cross, de versões intermediárias de Creta e até de alguns rivais que chegam com pacote ADAS completo. A aposta está na percepção de valor. Se o cliente enxergar que o novo Kicks oferece mais segurança, mais tecnologia e mais acabamento que o antigo, ele aceita pagar. Se não enxergar, ele volta para o Kicks Play com desconto.
Fonte: Motorshow