A Volkswagen Saveiro atravessa o tempo com uma teimosia admirável. Nascida há 45 anos e baseada na mesma estrutura do extinto Gol, a veterana picape compacta segue acelerando em um mercado tomado por SUVs e modelos de nova geração. Longe de ser um projeto moderno, ela se tornou um caso raro de resistência — e um fenômeno de vendas em 2025.
De janeiro a setembro, a Saveiro somou 48.355 emplacamentos, segundo a Fenabrave, e ocupa a quinta posição entre os veículos mais vendidos do país. A façanha é ainda mais impressionante quando se considera que o modelo praticamente não mudou em 15 anos. A última reestilização, discreta, limitou-se a retoques visuais e ajustes mínimos, sem novidades mecânicas ou eletrônicas.

Enquanto a Fiat Strada reina absoluta com 101.298 unidades vendidas no mesmo período, a Saveiro ressurgiu como uma alternativa sólida no campo das vendas diretas. Quase 95% dos seus emplacamentos vêm desse canal, voltado a empresas, produtores rurais e locadoras. Com descontos generosos, o preço da versão de entrada pode cair abaixo dos R$ 90 mil — um atrativo irresistível para quem busca robustez e baixo custo de operação.
Essa guinada estratégica da Volkswagen redefiniu o público da Saveiro. No varejo, o modelo perdeu espaço há anos, mas nas frotas corporativas encontrou terreno fértil. Segundo o consultor Milad Kalume Neto, o segredo foi reposicionar a picape como ferramenta de trabalho eficiente. “A grande sacada foi atender o público certo, com preço competitivo e produto confiável”, explica o especialista.
A comparação com a Strada continua inevitável. A rival da Fiat oferece motores mais modernos, câmbio automático e versões turbo, além de carrocerias variadas. Já a Saveiro mantém o tradicional motor 1.6 e câmbio manual, priorizando a simplicidade e a durabilidade. São escolhas distintas: enquanto a Strada foca o consumidor urbano e particular, a Saveiro se especializou no trabalho duro, nas estradas de terra e no transporte leve diário.
Mesmo envelhecida, a picape segue relevante por um motivo simples: o projeto está pago. A plataforma antiga garante custos baixos de produção, e a VW aproveita o legado para manter margens e atender um nicho ainda fiel. O destino, porém, já está traçado. A marca prepara uma nova caminhonete — inspirada no conceito Tarok — que será produzida em São José dos Pinhais (PR) a partir de 2026, dividindo espaço com T-Cross e Virtus.
Essa nova picape, de porte intermediário e possível versão híbrida, deve ocupar o espaço entre a Saveiro e a Amarok, mirando rivais como Chevrolet Montana e Renault Oroch. Até lá, a Saveiro continua sua jornada com a mesma vocação que a consagrou: simples, robusta e incansável. Enquanto muitos projetos vêm e vão, ela prova que, no Brasil, tradição e funcionalidade ainda vendem — e muito.