Parcerias entre montadoras para criação de novos veículos são bem raras, porém quando acontecem, se tornam atrações no mercado e no mundo automotivo. O exemplo mais recente foi a junção da Toyota com a Subaru para a criação do 86, modelo da Toyota com a mesma carroceria e motorização do BRZ. Mas quando falamos em “collabs automotivas”, nenhuma supera a Mercedes com a McLaren que, juntas, criaram a icônica SLR McLaren.
Mas falando um pouco mais sobre este meio incomum, porém interessante no meio automotivo, já houve parcerias que, nos dias de hoje, soam um tanto quanto inusitadas. Uma delas foi a junção da Citroën com a Maserati (sim, a Maserati) para a criação de um veículo luxuoso e veloz! Hoje, contaremos mais sobre o Citroën SM, um dos carros mais exóticos, curiosos e legais de toda a Europa!
Para entendermos como esta parceria começou, temos que voltar para os anos 60, onde a Citroën tinha em linha seu modelo DS, que já tinha um certo apreço do público e, como a demanda crescia, a marca começou a trabalhar em uma vertente esportiva do DS, que ficou conhecida como ‘Projeto S’.
Acontece que, como os custos eram extremamente altos e a Citroën tinha dificuldades para fazer este projeto vingar, ele ficou entre idas e vindas até o ano de 1968, quando os franceses se tornaram proprietários da fabricante italiana de esportivos Maserati!
Era esta a adição que faltava para que o projeto deslanchou de vez! A Citroën utilizou toda sua tecnologia de suspensão hidropneumática, inovadora para a época, com os motores v6 da Maserati atrelados ao luxo digno de um Grand Tourer, nascendo assim o Citroën SM (Sport Maserati), um veículo coupe de duas portes e (muito) mais forte do que o DS.
Apresentado no Salão de Genebra, em março de 1970, o modelo rapidamente chamou a atenção de todos com seu design chamativo, interior muito sofisticado e, claro, um motor de seis cilindros em V da Maserati.
Inicialmente, o veículo contava com um motor 2.7 que rendia 170 cv de potência atrelado ou ao câmbio manual de 5 velocidades ou ao automático de 3 marchas. Em 1972, este mesmo motor recebeu uma injeção eletrônica da Bosch, que fez sua potência saltar para 178 cv, usando a mesma caixa manual. Também existia a opção do motor 3.0 de 180 cv que foi lançado em 1973, utilizando as mesmas caixas de câmbio.
Naquela época, os veículos deste porte eram extremamente restritos de serem montados na França por conta das altas tributações pelos impactos da segunda guerra mundial. Por esta razão, o SM teve que se contentar com um motor de “apenas” 2.7 litros V6 e posteriormente o 3.0, mas seu cofre aguentaria facilmente os V8 da Maserati. Existe inclusive um modelo bi turbo deste motor que foi desenvolvido para provas de velocidade, onde o modelo chegou a alcançar os 325 km/h! Com seu luxo interior e motor Maserati, o Citroën SM brigou de frente contra os GTs mais luxuosos da época, como a Mercedes 450 SLC, o Cadillac Eldorado, Jaguar XKE, Ford Thunderbird e até mesmo alguns modelos das renomadas Ferrari e Porsche. Não era o mais forte entre seus concorrentes (era o mais fraco, inclusive), mas seu coeficiente aerodinâmico de incríveis 0,26 fizeram com que sua falta de força compensasse e fizesse com que o modelo da Citroën se tornasse uma opção pra lá de interessante.
O modelo teve boa adesão nos seus três primeiros anos de fabricação por conta de tudo que foi dito tanto no mercado americano quanto no europeu. Este carinho que o SM conquistou lhe rendeu alguns ex- proprietários famosos e que levam até hoje a imagem do modelo em sua história.
É simplesmente impossível citar o SM sem falar do jogador de futebol holandês Johan Cruyff, lenda do Ajax e do Barcelona e, indiscutivelmente, o maior jogador de futebol holandês da história! Outros famosos também tinham o SM como seu xodó, sendo eles Jay Leno, o ator Burt Reynolds e o também ator Daniel Craig.
Mas a vida do SM foi muito mais curta do que o planejado, muito por conta de fatores externos. Até 1973 o veículo vendia muito bem, porém, neste mesmo ano ocorreu a crise do petróleo e, juntamente a isso, uma recessão econômica se alastrou. Sendo assim, o mercado europeu que já era mais complexo de se vender por conta das altas tributações, juntamente ao valor maior do combustível e os preços mais altos, tornou- se inviável.
O mercado norte-americano, que era visto como uma saída para o SM deslanchar, sofreu um duro golpe quando a Citroën não recebeu a isenção que precisava para regulamentar o para-choque do modelo. Por conta disso, todos os modelos 1974 foram vendidos para o Japão e o mesmo nunca mais retornou à fábrica.
Como se não bastasse tudo isso, a Citroën declara falência em 1974 e, logo em seguida, é comprada pela concorrente Peugeot, marca a qual atuam de forma conjunta até hoje. Juntamente a todo este cenário, em maio de 1975 quando a Peugeot concluiu a transação, foram produzidas apenas mais 115 unidades do modelo naquele ano e, após isso, foi oficialmente descontinuado.
Ao final de sua vida, foram produzidas apenas 12.920 unidades do modelo entre os anos de 1970 e 1975, fazendo com que este modelo se tornasse extremamente raro. Muito provavelmente nunca mais veremos uma combinação da Citroën com a Maserati, mas a história que estas duas marcas tiveram juntas, mesmo que por pouco tempo, jamais será apagada!
*Com informações da Stellantis.