Como eu restaurei e vendi um VW Golf MK3 lindo

Na verdade, a parte mais bacana é parar no semáforo e receber um elogio de alguém que teve um igual na época, de alguém que conhece alguém que teve, ou até mesmo sair de casa e não ver nenhum carro igual. Eu sou assim, não ligo para ano, preço ou marca, gosto de carros e nunca esquecerei do meu Golf Gl 1.8 1995.
Publicado em Notícias dia 4/08/2021 por Alan Corrêa

Em 1995, nas legítimas fábricas da Volkswagen na Alemanha, estava sendo fabricado o carro que mudaria a minha vida.

Trata-se de um Golf Gl 1995, famosa geração MK3. Após 23 anos e 3 donos desde sua fabricação, no ano de 2018 no período da tarde, recebi uma ligação do meu pai dizendo que tinha feito um “rolo” onde entraria com uma de suas motos , uma DT 180, como parte de pagamento em uma negociação e que pegaria um carro que tinha muito potencial. Ele ressaltou que o carro não estava tão bonito de pintura, pelo fato de a funilaria já ter sido iniciada, mas que o carro nunca tinha sido batido, era extremamente alinhado e fácil de revisar a mecânica.

Golf antes da restauração
Golf antes da restauração

Quando recebi a foto e me dei conta que se tratava de um Golf os olhos até encheram, pelo fato de sempre ter tido o carro como sonho de infância. Antes de ter pertencido ao seu amigo, antigo proprietário do carro, ele tinha ficado 3 anos parado dentro de uma garagem, então assim que fechado o negócio, inúmeros desafios deram início. A aventura começou no próprio dia que fomos buscá-lo na Vila Mariana, que o carro não tinha nenhuma bateria e oscilava em marcha lenta, o que proporcionou uma volta emocionante a cada semáforo que parávamos, tanto para o meu pai que dirigia, para mim que estava no passageiro, quanto para o meu irmão que estava no carro de suporte.

Quando chegamos em casa o lado consciente passou o lado emocional e chegamos a conclusão que seria melhor fazer tudo de uma vez para não começarmos a postergar e deixar o projeto parado por mais alguns anos. O quanto antes o carro recebeu pintura de porta fechada, no capô, nos para-choques e laterais. O teto e tampa do porta–malas permaneceram com a pintura original pelo fato de não ter necessidade de pintura.

Antes da pintura e funilaria
Antes da pintura e funilaria
Golf após a pintura
Golf após a pintura

Assim que liberado da funilaria, o carro seguiu para a nossa oficina mecânica de confiança, onde as pequenas coisas a serem feitas passaram a não ser tão pequenas e a revisão preventiva passou a ser corretiva. Foi feito toda a parte de motor, câmbio e suspensão do carro e depois de muito trabalho e acerto em cima de sua injeção monoponto (com apenas um bico injetor), conhecida popularmente como “injeção burra”, o carro ficou extremamente confiável e bom de andar.

Depois de ter recebido funilaria, pintura e revisão mecânica completa, o carro passou ser carro de uso diário do meu irmão e por isso seguiu completamente original durante um longo período de tempo. Aos meus 17 anos o Golf não era mais carro de uso diário do meu irmão e meu pai me deu a oportunidade de assumir e dar continuidade ao projeto. Era muito mais que um carro, era um sonho, algo que pudesse refletir minha personalidade. Não deu nem um mês o Golf já recebeu sapatos novos, rodas réplica de Porsche aro 15 visando estética e não perder tanta performance. Sofreu upgrade na parte de suspensão, com molas esportivas e nova calibração nos amortecedores.

O carro passou ser carro de uso diário
O carro passou ser carro de uso diário

Assim aos poucos o projeto se iniciou. Pequenos detalhes foram alterados em seu interior, como manopla de câmbio, rádio original de época, pedaleiras do Golf GTI… Do mesmo jeito que algumas outras modificações também seguiam sendo feitas na parte externa do carro, como troca das lanternas originais pelas também originais do Golf GTI, que são mais escuras, instalação das famosas entradas de ar no para-choque, ou, air intakes, faixa lateral inspirada no Escort XR3 na cor dourada para contrastar com o vermelho do carro, além de pequenos outros detalhes.

Golf MK3 restaurado
Golf MK3 restaurado

Na parte de performance, o motor 1.8 dele já é muito gostoso de andar original. Não é muito potente, mas proporciona um torque que torna o Golf confortável para ser usado no dia a dia dentro da cidade. Pelo fato de ser um carro aspirado, antigo, não existe muita preparação a ser feita sem grandes alterações, como turbinar por exemplo. Por isso, foi feito apenas upgrade na parte de indução de ar e exaustão do motor, com o mais conhecido “filtro e escape”, que já proporcionou um ronco bacana e já me fazia muito feliz.

Esse carro não faz mais parte da minha garagem atualmente, não continua na família, mas deixando de lado o projeto e quão incrível foi ver essa transformação, o que sempre levarei comigo será os momentos que esse meu primeiro carro me proporcionou durante vários e longos anos ao meu lado. As brincadeiras que rolaram pelas ruas, os cavalinhos de pau nos dias de chuva, os primeiros eventos que fui com um projeto meu.

Um carro novo todo mundo dirige, um carro antigo também, porém para dirigir direito é necessário contato com o carro. Saber quando embalar na subida, saber a força certa para fechar as portas, fazer as contas para saber quantos quilômetros ainda é possível rodar com final do tanque.

Na verdade, a parte mais bacana é parar no semáforo e receber um elogio de alguém que teve um igual na época, de alguém que conhece alguém que teve, ou até mesmo sair de casa e não ver nenhum carro igual. Eu sou assim, não ligo para ano, preço ou marca, gosto de carros e nunca esquecerei do meu Golf Gl 1.8 1995.

*Texto por Gustavo Ito.