Um episódio incomum envolvendo um carro elétrico chamou a atenção do setor automotivo nesta semana. Uma oficina especializada da cidade de Araruama, no Rio de Janeiro, relatou ter adquirido um Renault Kwid E-Tech em leilão e encontrado um bloco de concreto no compartimento onde deveria estar a bateria do veículo. A situação, registrada em vídeo e divulgada nas redes sociais, levanta questionamentos sobre a transparência nas operações de venda em leilões de veículos usados.
Pontos Principais:
A empresa responsável pela aquisição é a B3 Car, que atua na compra de veículos danificados para reparos e revenda. O Kwid elétrico foi arrematado com danos visíveis na dianteira e chegou à oficina sem condições de funcionamento. A verdadeira dimensão do problema, no entanto, só foi revelada durante os procedimentos mecânicos: no lugar do conjunto de baterias, havia um molde de concreto instalado no assoalho do automóvel.
O caso causou prejuízo financeiro significativo à empresa, estimado em mais de R$ 40 mil. O proprietário do negócio, por meio de um dos técnicos, criticou duramente o que considerou uma omissão grave por parte do leiloeiro, que não teria informado sobre a ausência ou adulteração do componente elétrico principal do carro.
A oficina informou que a compra foi feita em um leilão realizado no início de 2025. O Kwid E-Tech, veículo 100% elétrico da Renault, estava descrito como inoperante, mas sem menção a falhas estruturais no sistema de propulsão. A ausência de detalhes mais precisos sobre a condição da bateria gerou expectativas de uma simples substituição de peças danificadas, comuns em carros acidentados.
Durante a desmontagem da parte inferior do veículo, os técnicos encontraram uma estrutura sólida e cinzenta onde se esperava o módulo de bateria de 26,8 kWh. O conjunto estava selado e apresentava sinais de adaptação não original. A empresa registrou o momento da descoberta em vídeo, no qual um dos funcionários relata a surpresa e o impacto da fraude.
O funcionário também afirmou que não foi a primeira vez que encontrou esse tipo de adulteração em veículos adquiridos por leilão, mas reforçou que, neste caso, a ausência de comunicação clara sobre a bateria foi o principal problema. A oficina decidiu divulgar publicamente o fato como forma de alertar outros compradores sobre os riscos envolvidos nesse tipo de negociação.
Esse episódio não é isolado. Em 2024, um caso semelhante foi compartilhado nas redes sociais por outro comprador que também adquiriu um Renault Kwid E-Tech com a bateria substituída por concreto. Na ocasião, o vídeo viralizou, mas não houve desdobramentos oficiais sobre possíveis responsabilidades dos envolvidos no processo de leilão.
Segundo o novo relato da B3 Car, o veículo arrematado em 2025 já havia sido listado anteriormente em outro leilão no ano anterior. A hipótese levantada pela empresa é que o carro teria sido devolvido à casa de leilões após a primeira tentativa de venda e, em seguida, colocado novamente à disposição do mercado sem correções nas informações.
Não foram divulgados detalhes sobre a identidade do leiloeiro ou os termos contratuais da transação. A falta de transparência nesse tipo de negociação reforça a necessidade de regulamentação mais rígida sobre a descrição dos veículos, especialmente no caso de modelos elétricos, cuja bateria representa um dos componentes mais caros e essenciais para o funcionamento.
O Renault Kwid E-Tech é equipado originalmente com uma bateria de 26,8 kWh, que fornece uma autonomia aproximada de 185 km, segundo o Inmetro. O modelo pode ser recarregado em tomadas comuns de 220V, wallbox de 7 kW ou carregadores rápidos com tecnologia DC. O tempo de recarga varia entre 40 minutos e nove horas, conforme a fonte de energia utilizada.
Sem a bateria original, o carro elétrico torna-se inviável do ponto de vista técnico e econômico. A substituição do conjunto adulterado por uma bateria nova, caso fosse possível, teria um custo superior ao valor total do veículo adquirido no leilão. Isso inviabiliza a recuperação do investimento e compromete a viabilidade da reparação.
Com preço de tabela na casa dos R$ 139.990, o Kwid E-Tech é atualmente um dos modelos elétricos mais acessíveis disponíveis no Brasil. No entanto, casos como esse revelam que o mercado de veículos de segunda mão, especialmente os vendidos por leilões, exige atenção redobrada, já que componentes críticos como a bateria podem ser alvo de fraudes ou substituições irregulares.
Até o momento, não houve manifestação oficial da casa de leilões responsável pela venda do veículo adulterado. A B3 Car também não confirmou se tomará medidas legais para reaver o prejuízo. O episódio, contudo, reacende o debate sobre a falta de regulamentação específica que garanta a veracidade das informações prestadas em leilões de veículos elétricos.
As normas vigentes para venda em leilão permitem a comercialização de veículos com avarias, desde que haja descrição precisa das condições. No entanto, a ausência de detalhes técnicos sobre a bateria de um carro elétrico levanta dúvidas sobre o cumprimento desse princípio. O caso pode servir de base para discussões futuras sobre ajustes na legislação que rege o setor.
Enquanto isso, empresas e consumidores que atuam no segmento de carros elétricos usados precisam reforçar as práticas de inspeção prévia e, sempre que possível, exigir laudos detalhados que comprovem a integridade dos principais sistemas do veículo. A expectativa é que episódios como esse contribuam para uma maior conscientização sobre os riscos e responsabilidades no mercado de leilões.
Fonte: AutoEsporte, Odia e Jornaldocarro.