No final da década de 1970, a Honda decidiu retornar ao Campeonato Mundial de Motovelocidade, do qual havia se afastado por mais de uma década. Durante sua ausência, a empresa se firmou como a maior fabricante de motocicletas do mundo, conquistando uma posição de destaque também na indústria automobilística. A expectativa dos fãs era alta, esperando que a Honda, vencedora de 16 títulos mundiais entre 1961 e 1967, retomasse seu lugar de liderança nas corridas.
No entanto, a estratégia escolhida pela marca foi ousada. Em vez de seguir a tendência das motocicletas com motores 2 tempos, que dominavam a categoria de 500 cc, a Honda decidiu apostar em um projeto completamente novo e desafiador: a NR 500. Esta moto, equipada com um motor 4 tempos V4 com pistões ovais e oito válvulas por cilindro, representava uma abordagem revolucionária que visava competir de igual para igual com os motores 2 tempos.
O conceito dos pistões ovais surgiu como uma solução técnica para contornar as limitações do regulamento da época, que impunha um máximo de quatro cilindros para motores de 500 cc. A ideia era que, ao adotar pistões ovais, o motor 4 tempos pudesse operar com eficiência semelhante a de um motor 2 tempos, alcançando rotações superiores a 20 mil rpm. Isso permitiria à NR 500 entregar uma potência comparável, embora a complexidade do projeto tenha criado grandes desafios técnicos.
Entre 1979 e 1982, a NR 500 enfrentou uma série de dificuldades. Problemas como quebras frequentes, peso elevado e falta de potência se mostraram constantes, além da dificuldade de manuseio pelos pilotos. Mesmo com todo o esforço da equipe técnica, a Honda não conseguiu atingir os resultados esperados nas pistas. Em um momento de frustração, houve quem questionasse se a equipe estava realmente desenvolvendo inovações ou apenas tentando dar vida a uma ideia inviável.
Apesar de não ter alcançado vitórias, a NR 500 deixou um legado importante. Um dos desenvolvimentos mais significativos foi a embreagem deslizante, uma solução criada para mitigar o efeito do freio motor excessivo causado pelo complexo motor 4 tempos. Esse dispositivo, que facilita a troca de marchas sem travar a roda traseira, se tornou um componente comum em motos esportivas de alta performance.
Outra inovação da NR 500 foi o chassi monocoque de alumínio, uma estrutura mais leve e rígida que substituiu o tradicional quadro tubular de aço, usado na maioria das motocicletas de competição da época. A moto também introduziu os radiadores de óleo laterais, o que contribuiu para uma melhor refrigeração do motor em condições de corrida. Além disso, a NR 500 foi uma das primeiras a utilizar discos de freio de fibra de carbono, tecnologia que hoje é amplamente adotada em competições e motocicletas de alto desempenho.
Embora a NR 500 não tenha cumprido as expectativas esportivas imediatas, seu impacto foi profundo. As lições aprendidas com esse projeto influenciaram o design e a engenharia das motocicletas Honda nas décadas seguintes. A marca consolidou sua reputação de inovação, mostrando que o verdadeiro valor do desenvolvimento técnico vai além de vitórias nas pistas.