As competições de automobilismo fascinam todos os amantes por velocidade, inclusive as mulheres. Mas houve uma mulher em especial que conseguiu provar o seu talento nas pistas, a ponto de se tornar um dos ícones do Campeonato Mundial de Ralis na década de 80. Trata-se de Michèle Mouton, a pilota francesa.
Michèle Mouton foi a primeira e até hoje única mulher a vencer uma etapa do Campeonato Mundial de Rali, em Sanremo em 1981. Em 1982 após um disputado campeonato ela terminou o ano na segunda posição do WRC, vencendo as etapas de Portugal, Brasil e Acrópole pilotando um Audi Quattro.
Esta heroína francesa conseguiu a façanha de vencer quatros provas e conquistar um segundo lugar no Mundial de Ralis. Entre as categorias que competiu, estava do Grupo B, composto pelos veículos mais potentes da história.
Sua história de superação é marcada dentro e fora das pistas. Dentro, ela conseguiu mostrar a capacidade de igualdade ao competir com homens. Fora, resistiu às pressões machistas e suspeitas infundadas de seu desempenho.
Michèle começou a dirigir aos 14 anos, onde conheceu o prazer da direção conduzindo o Citroën 2CV de seu pai pelas vielas da cidade de Grasse, na Riviera Francesa.
Aos 22 anos, seu companheiro o piloto Jean Taibi a convidou para se tornar navegadora ajudando-o a se preparar para o Rali do Tour de Corse de 1972.
Foi então que o talento da jovem desabrochou e Jean Taibi a convidou desta vez a ser seu co piloto no Rali de Monte Carlo de 1973, bem como em outras provas do Campeonato Mundial de Rali (WRC).
O pai de Mouton, por sua vez, se sentiu inseguro com a situação e fez uma proposta muito ousada, própria também de um amante por corridas. Deu para sua filha um Alpine-Renault A110 e um ano para ela provar seu potencial como pilota, posição esta em que ele achava que correria menos riscos.
Ao término do seu desafio, Mouton provou seu talento ao seu pai e ao mundo do automobilismo, competindo no Rali Internacional de Tour de Corse, vencendo o Campeonato Francês para Mulheres e o Classe GT.
Em 1975, Mouton melhorou a potência do motor de seu Alpine-Renault A110 e conseguiu por primeira vez a vitória no Tour de Corse. Competiu também nas 24 Horas de Le Mans dirigindo um Moynet JRD-LM75 com uma equipe inteiramente feminina.
O sucesso de Mouton levantou também outros rumores… Muitos não podiam acreditar que uma mulher fosse capaz de superar homens em um esporte tão competitivo como os ralis de corrida.
No entanto, as suspeitas caíram por terra no Rali de Córsega, devido ao regulamento que permitia que os carros fossem examinados rigorosamente. Após não constataram nada de irregular no carro de Mouton, a própria declarou que agora “eles não tinham mais nada a falar contra mim”.
À medida que o talento de Mouton evoluía, diversos modelos foram passando por sua mão, como o Lancia Stratos HF, Fiat 131 Abarth e o Porsche Carrera RS.
Foi então que sua carreira deu mais um salto, em 1981, quando a Audi a convidou a participar do Campeonato Mundial WRC pilotando o Audi Quattro com tração nas quatro rodas.
Na décima etapa da temporada, Mouton registrou seu nome na história do WRC e da própria Audi, sendo a primeira mulher a vencer uma prova da WRC e a primeira vitória da equipe alemã no Rali de Sanremo.
Em 1983, teve início a nova categoria de rali: o Grupo B. Os veículos passaram a equipar motores superiores a 600 cv de potência, tração 4×4 e chassis esportivos com estrutura tubular.
Mouton permaneceu como pilota da equipe Audi até o ano de 1985, onde obteve outra importante vitória no Pikes Peak International Hillclimb com tempo recorde, bem como quase chegou a faturar o campeonato mundial.
Na penúltima etapa da temporada, na Costa do Marfim, Mouton era a vice-líder do campeonato, ficando atrás apenas de Walter Rohrl. Caso vencesse a prova, a decisão ficaria prorrogada para a etapa final.
Em uma disputa muito acirrada, a francesa teve que abandonar a prova devido a um acidente. Rohrl sagrou-se campeão, mas o mundo automobilístico teve que reconhecer o talento de Mouton.
Em seu último ano de competição, 1986, Mouton pilotava um Peugeot. Devido à quantidade de acidentes, alguns deles fatais, a FIA teve que encerrar o Grupo B e a francesa optou pela aposentadoria.
Com efeito, seu nome entrou para a história do automobilismo não apenas como a mulher mais rápida, mas como um dos pilotos mais rápidos. Atualmente, Michèle Mouton é presidente da Comissão da FIA para Mulheres no Automobilismo.