Elon Musk enfrenta um cenário crítico. As ações da Tesla despencaram mais de 50% em três meses, saindo de US$ 479,86 em dezembro para US$ 233,06. O movimento acendeu alertas entre investidores e funcionários, obrigando Musk a agir.
Pontos Principais:
Em uma reunião transmitida na plataforma X, o CEO tentou conter o pânico. Ironizou notícias catastróficas, citando reportagens sobre Teslas incendiados, e pediu que funcionários mantivessem suas ações. Repetiu promessas antigas sobre carros autônomos, dizendo que a solução estaria a uma atualização de software, apesar de admitir ser comparado ao “menino que gritava lobo” por nunca cumprir essas previsões.
A crise financeira se mistura à crise de reputação. Protestos contra a Tesla e Musk surgiram nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Reino Unido, França e Portugal. Em vários casos, houve vandalismo: showrooms atacados, estações de recarga danificadas e veículos incendiados. O Cybertruck tornou-se símbolo da rejeição, alvo de pichações e vídeos de deboche nas redes sociais.
O envolvimento político de Musk intensificou o desgaste. Sua participação no governo Trump e aparição em um comício do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha aumentaram o descontentamento. Trump reagiu, organizando um desfile de Teslas na Casa Branca e classificando os ataques como terrorismo doméstico.
A retração não está apenas nas ações. As vendas globais da Tesla recuaram de 1,81 milhão para 1,79 milhão de unidades. Na Europa, a queda foi de 45% em janeiro. Na China, as remessas caíram 49%. Apenas o Reino Unido apresentou crescimento, com aumento de 21%.
Parte da queda se explica pela paralisação da produção do Model Y, interrompida para atualizações na linha de montagem e desenvolvimento de nova versão. A promessa de novos modelos mais acessíveis para o primeiro semestre de 2025 ainda não saiu do papel.
Os modelos mais antigos mostram sinais de desgaste. O Model S, lançado em 2012, e o Model X, de 2015, já não impressionam diante de rivais. O Model 3 e o Model Y, que impulsionaram o crescimento recente, enfrentam concorrência acirrada e falta de novidade.
A pressão competitiva vem sobretudo da China. A BYD lidera o avanço, apresentando carregamento ultrarrápido capaz de fornecer 400 km de autonomia em cinco minutos. Xpeng e Nio expandem presença no segmento premium. Fabricantes coreanas, como Kia e Hyundai, também avançam rapidamente no segmento elétrico.
O lançamento do Cybertruck é visto como insuficiente para manter o ritmo de inovação da Tesla. Especialistas alertam que, sem renovação da linha, a empresa corre risco de perder a liderança conquistada no último ciclo.
Musk insiste no projeto de robôs-táxis. Em janeiro, prometeu operações no Texas até junho. Analistas não levam a sério. Em 2019, prometeu um milhão de veículos autônomos em operação em um ano, e nada se concretizou. O sistema Full Self Driving segue inacabado e exige atenção constante do motorista.
A dedicação de Musk está dividida entre Tesla, SpaceX, a plataforma X, a xAI e o governo Trump. Perguntado se pretende entrar no setor aéreo, admitiu já ter pensado em aeronaves elétricas de decolagem vertical, mas confessou estar sobrecarregado.
Pressões internas aumentam. Ross Gerber, investidor de longa data, pediu publicamente a renúncia de Musk. Analistas, como Matthias Schmidt, defendem mudança no comando da Tesla para afastar o “contágio tóxico” das polêmicas e permitir foco total na gestão automotiva.
Pesquisas da Morning Consult indicam que a imagem de Musk prejudica a marca, especialmente na Europa e no Canadá. Nos Estados Unidos, o efeito é ambíguo, mas consumidores de alta renda que pretendem comprar veículos elétricos começam a considerar outras marcas.
A Tesla continua valendo mais de 100 vezes seus lucros. Esse múltiplo só se justifica por expectativa de liderança em tecnologia e crescimento rápido. Mas a concorrência acelera.
Sem entregas concretas em autonomia veicular e inovação, o mercado pode abandonar as apostas. O próximo semestre será decisivo. A Tesla precisa recuperar credibilidade, lançar novos produtos e responder à pressão de rivais.
Musk, até aqui, foi sinônimo de Tesla. Hoje, começa a ser parte do problema.