Na hora de comprar peças para carros vale a pena ter atenção

Uma prática pouco comum ainda no Brasil, mas que em países vizinhos como a Argentina, é bastante utilizada: a reciclagem de automóveis que saem de circulação e o reaproveitamento das peças de acordo com a lei, garantindo a procedência e a legitimidade das peças.
Publicado por Alan Corrêa em Notícias dia 10/01/2019

Uma prática pouco comum ainda no Brasil, mas que em países vizinhos como a Argentina, é bastante utilizada: a reciclagem de automóveis que saem de circulação e o reaproveitamento das peças de acordo com a lei, garantindo a procedência e a legitimidade das peças.

Peças reaproveitadas: menos da metade do preço

Uma das grandes vantagens da reciclagem e reaproveitamento das peças é o baixo custo que elas terão para o consumidor, podendo chegar em alguns casos a um quinto (1/5) do valor de uma peça nova na concessionária.

Levando em consideração que até 85% do veículo pode ter peças reaproveitadas e até 10% de peças recicladas (plásticos, vidros, óleos, entre outros), a economia pode ser bem grande, e a possibilidade de encontrar o que precisa também.

Totalmente legalizado e com garantia

A regulamentação dos chamados desmanches foi feita em 2014 pela lei federal 12.977 e a estadual 15.276 (no caso de São Paulo). Com isso, peças reutilizáveis passam a ser totalmente legal, e ainda trazem o benefício de inibir a criminalidade, pois não é mais necessário recorrer a itens que podem ter sido roubados.

Isso evita também que o cliente compre peças sem garantia e que tenham defeitos, causando mais prejuízo do que economia. Com a regulamentação as peças passam a ter garantia do fornecedor como qualquer outro produto do mercado.

A lei em questão também determina como o veículo deve ser desmanchado, e impõe diversas regras que ajudam a diminuir a agressão ao meio ambiente. Uma das principais desmontadoras é a Renova Ecopeças, ligada ao grupo Porto Seguro.

O processo demora aproximadamente de três horas, e conta com a análise completa da documentação do veículo (permitindo garantir sua procedência lícita), a descontaminação do todas as peças, a destinação ambientalmente responsável de resíduos que possam ser lesivos ao meio ambiente, e por fim a aplicação do sistema de rastreamento, medida indispensável para a revenda.

Seguradoras oferecem apólices mais baratas

Uma vantagem proporcionada pelo desmanche para a economia é a diminuição do valor das apólices de seguros para quem permita a utilização de peças de reposição reaproveitadas.

Infelizmente, apenas 30% de toda frota brasileira conta com seguro. Para incentivar que as pessoas recorram ao seguro, algumas seguradoras já disponibilizam apólices de seguros mais baratas caso possam ser usadas peças reaproveitadas, mas sempre que estas sejam provenientes de empresas de desmanche cadastradas no Detran.

Grande ajuda ao meio ambiente

Um dos pontos positivos mais importantes que essa medida proporciona é o grande impacto ambiental que acarreta consigo. É assustador pensar que a frota brasileira está composta de aproximadamente 35 milhões de veículos, e que mais da metade deles está chagando ao momento da “aposentadoria”.

Mas saber que até 95% de um carro usado pode ser reaproveitado é como música aos ouvidos. Infelizmente, apenas 1,5% dos veículos passam por esse procedimento no Brasil. Mas a tendência de esse número aumentar é bastante favorável, e o mercado se mostra promissor.

Peças que não podem ser reutilizadas

Tudo nessa vida tem limites, e no caso da reutilização das peças de automóveis não seria diferente. A lei que regulamenta a atividade proíbe o uso de peças de itens ligados à segurança.

Mas são muitas as peças que podem ser comercializadas depois do processo. Segundo Sérgio Fabiano, gerente de serviços automotivos do IQA (Instituto da Qualidade Automotiva) “são cerca de 40 peças que podem ser revendidas”, entre as quais estão partes de lataria, motor, câmbio e escapamento.

Procedência e rastreabilidade

As peças reaproveitadas passam por um rigoroso procedimento para torná-las rastreáveis. Através de um selo holográfico QR Code (código de barras em duas dimensões) fornecido pelo Detran e que é inserido em cada peça.

Com isso, além de saber exatamente a procedência e o histórico completo de cada peça, é possível rastrear sua origem, o que é possível fazer através de um aplicativo de celular, permitindo ao consumidor saber de que carro veio a peça.

Peças que as concessionárias não têm

Pode parecer piada, mas não é. Certas peças que as próprias concessionárias ainda não têm em estoque, algumas lojas de desmanche já possuem. Não tem nada que confunde mais um motorista do que chegar na concessionária para comprar uma peça e ouvir a resposta de que só chegará em três meses. Quem passou por essa situação sabe muito bem como é desagradável.

Aqui nós temos outra vantagem dos desmanches autorizados e regulamentados: as peças estarão muito mais rapidamente disponíveis no mercado. Um exemplo disso é o Renault Kwid, cuja pré-venda foi um sucesso tão grande que obrigou a montadora a acelerar o processo de produção.

Como alguns dos itens do modelo citado são exclusivos – para baratear custo – como as rodas que contam apenas com três parafusos, não era possível substituir por itens genéricos. Com a grande venda que aconteceu em seu lançamento, e a consequente produção massiva na fábrica, não havia tempo para produzir peças de reposição para enviar às concessionárias. Quem precisou de peças ficou à pé por alguns dias, ou até semanas.

Preços diferentes para peças iguais

Outro aspecto em que o reaproveitamento das peças pode impactar positivamente é quanto a diminuir a diferença de valores para peças iguais (ou muito semelhantes). Um exemplo vai deixar o assunto bem esclarecido.

Um conjunto de embreagem do Volvo C30 custa em média R$ 3.500, enquanto que o mesmo conjunto para o Ford Focus 2.0 custa R$ 1.140. Entretanto, ambos modelos usam a mesma plataforma, o mesmo motor, têm pesos parecidos e utilizam um kit mecanicamente idêntico. Porque, então, os preços são tão diferentes?

As explicações se multiplicam: oferta e demanda diferentes, escala de produção, volume de vendas, estoque de peças, rede de autorizadas, enfim, muitas desculpas e nenhuma convincente.

A possibilidade de reaproveitamento de peças pode ajudar a solucionar ou ao menos mitigar esses problemas, trazendo uma grande economia aos consumidores finais.