O mercado automotivo brasileiro entra em uma nova fase com o anúncio oficial da parceria entre Renault e Geely para produção, importação e venda de veículos elétricos e híbridos. A Geely, gigante chinesa da indústria automotiva, retoma operações no país com uma nova estratégia e traz consigo o SUV elétrico EX5 como primeiro modelo da nova fase, em uma atuação operacional liderada pela Renault.
Pontos Principais:
A parceria entre as montadoras não é inédita em nível global. Ambas mantêm colaboração por meio da divisão de motorização Horse Powertrain e já compartilham unidades industriais na Coreia do Sul. Agora, o mesmo modelo chega ao Brasil com planos definidos para curto, médio e longo prazo, incluindo rede própria de concessionárias, início das vendas a partir de julho e futuro uso da fábrica da Renault em São José dos Pinhais (PR).
A operação será realizada com distribuição física independente para as marcas, ainda que a infraestrutura de serviços e logística seja coordenada pela Renault. O plano inicial prevê a abertura de 23 pontos de venda em 19 estados já em julho, com meta de alcançar 105 concessionárias Geely em território nacional até 2026. Os veículos inicialmente serão importados, com produção local prevista para começar nos próximos dois anos.
O modelo escolhido para marcar o retorno da Geely ao Brasil é o SUV elétrico EX5. Com porte médio, o utilitário tem 4,62 metros de comprimento, 1,90 metro de largura, 1,67 metro de altura e 2,75 metros de entre-eixos, números que o posicionam na faixa de rivais como BYD Song Plus e Jeep Compass. O EX5 virá diretamente da China no primeiro lote, previsto para desembarcar no Porto de Paranaguá (PR).
No mercado internacional, o EX5 é oferecido com motor elétrico dianteiro de 217 cavalos de potência e torque de 32,6 kgfm. A versão confirmada para o Brasil utiliza bateria de 60,2 kWh de capacidade, que rende até 530 quilômetros de autonomia no ciclo chinês, valor que pode ser inferior após homologação pelo Inmetro. O desempenho inclui aceleração de 0 a 100 km/h em 6,9 segundos.
O interior do EX5 segue a tendência atual dos carros elétricos de origem chinesa. Traz uma central multimídia de 15,4 polegadas com assistente de voz capaz de reconhecer 200 comandos, painel digital independente e poucos comandos físicos. Ainda não há definição de preço para o modelo, mas a pré-venda deve ser anunciada em breve pelas concessionárias autorizadas.
A nova rede de concessionárias Geely será estruturada com apoio direto da Renault, mas com distinção visual e de operação entre as marcas. Segundo Luiz Fernando Pedrucci, presidente da Renault América Latina, a distribuição inicial cobrirá 19 estados com 23 pontos, mas a projeção inclui 105 unidades em pleno funcionamento até 2026, com independência gradativa.
A Geely atuará como marca separada, embora aproveite serviços, manutenção e suporte da rede Renault. Em algumas cidades, as duas marcas dividirão espaço físico, mas com operação e identidade próprias. Em outras, os concessionários serão exclusivos da marca chinesa, incluindo unidades independentes desde o lançamento da operação.
Com esse modelo de cooperação, as marcas adotam uma estratégia híbrida que visa expansão rápida com baixo custo de estrutura inicial. A gestão conjunta possibilita uso da malha logística existente, o que agiliza tanto a entrega de veículos quanto a distribuição de peças e serviços pós-venda.
Embora o EX5 chegue ao Brasil por importação direta, há intenção de iniciar a produção local em São José dos Pinhais nos próximos dois anos. A planta da Renault no Paraná poderá ser utilizada para montagem dos modelos Geely, o que está atualmente em fase de avaliação técnica e estratégica.
Além do EX5, a Geely planeja fabricar pelo menos mais dois modelos no Brasil até 2027. O primeiro da fila para nacionalização será o SUV híbrido Grand Koleos, que já está em testes por aqui. O modelo é fabricado na Coreia do Sul com base na plataforma CMA, a mesma utilizada em veículos da Volvo, também do grupo Geely.
O Grand Koleos é equipado com motor 1.5 turbo a gasolina de três cilindros, dois motores elétricos (um gerador e outro tracionando o eixo traseiro), potência combinada de 241 cavalos e torque total de 35 kgfm. O câmbio DHT tem três marchas físicas e relações variáveis elétricas. A autonomia declarada é de até 23 km/l.
O acordo entre Renault e Geely no Brasil envolve mais do que logística e rede de vendas. A Geely se tornará acionista minoritária da operação brasileira da Renault, o que lhe garante acesso privilegiado à infraestrutura de produção, cadeia de suprimentos e rede de serviços da montadora francesa.
Esse movimento é reflexo da atuação conjunta já existente entre as empresas por meio da Horse Powertrain, que fabrica motores híbridos, como os que equipam os modelos Renault Kardian e Duster com motores 1.0 e 1.3 turbo. A cooperação também inclui participação da Geely na operação sul-coreana da Renault, onde as duas marcas dividem instalações e processos produtivos.
A presença da Geely como acionista minoritária é estratégica para viabilizar a adaptação da planta de São José dos Pinhais e acelerar a montagem local de modelos eletrificados. O objetivo é reduzir a dependência de importações e avançar sobre concorrentes chinesas que já iniciaram produção no país, como BYD e GWM.
A entrada da Geely no Brasil é vista como um movimento de ampliação da presença chinesa no setor automotivo local, com foco em modelos eletrificados e conectados. A marca pretende adotar uma abordagem de médio e longo prazo, com desenvolvimento de portfólio nacional e foco em eficiência logística e atendimento ao consumidor.
A operação brasileira será gerida com separação de marcas, o que implica não apenas em redes distintas, mas também em posicionamentos de mercado independentes. A Renault segue com foco em modelos híbridos e a combustão flex, enquanto a Geely deve explorar SUVs e elétricos com maior autonomia.
Com o EX5 liderando essa nova fase e o Grand Koleos como futuro modelo nacional, a expectativa é que os primeiros resultados comerciais apareçam ainda em 2025. O fortalecimento da produção local deve ocorrer até 2026, com novos produtos e maior competitividade frente a rivais diretos.
Fonte: Renault, Motor1, AutoEsporte e Estadao.