A 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), realizada em Baku, no Azerbaijão, trouxe para o centro das discussões a importância de promover uma transição acelerada e sustentável em diversos setores da economia. Entre os temas mais relevantes, o setor automotivo se destacou devido ao seu potencial impacto na redução de emissões e na transição para uma economia de baixo carbono. Organizações e representantes do setor discutiram propostas, compromissos e inovações tecnológicas necessárias para alinhar o mercado de automóveis às metas climáticas globais, promovendo uma visão mais sustentável para o futuro.
A indústria automotiva é responsável por uma parcela significativa das emissões globais de gases de efeito estufa, principalmente devido ao uso de combustíveis fósseis em veículos de passeio e de transporte de carga. Durante a COP29, essa questão foi amplamente discutida, com destaque para a necessidade de uma transição para tecnologias de mobilidade mais limpas, como veículos elétricos e híbridos. Representantes do setor automotivo ressaltaram o papel que a indústria pode desempenhar no alcance das metas globais de redução de carbono.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e outras entidades ligadas ao setor defenderam a criação de políticas públicas e incentivos econômicos que favoreçam a adoção de tecnologias de baixo carbono. Entre as medidas sugeridas, destacam-se a redução de impostos para veículos sustentáveis e a criação de linhas de crédito específicas para o desenvolvimento de infraestrutura de recarga para carros elétricos. O setor também demonstrou interesse em colaborar com governos para implementar políticas que promovam a renovação da frota de veículos antigos, substituindo-os por modelos mais eficientes e menos poluentes.
Além disso, foram abordadas estratégias para enfrentar os desafios econômicos e técnicos dessa transição, que exigem investimentos significativos em pesquisa e desenvolvimento. A expectativa é que, com incentivos e investimentos, a indústria possa reduzir gradualmente o impacto ambiental dos veículos, tanto na fabricação quanto no uso.
A CNI apresentou propostas específicas durante a COP29, focadas em adaptação, mercado de carbono e financiamento climático para a indústria automotiva. Segundo a entidade, a criação de um mercado de carbono robusto e regulamentado é essencial para incentivar práticas de descarbonização no setor. Esse mercado permitiria que empresas que atingirem suas metas de redução de emissões possam negociar créditos com aquelas que ainda estão no processo de adaptação.
Entre as propostas, a CNI destacou a necessidade de um quadro regulatório claro para o mercado de carbono, além de medidas que garantam a transparência e a credibilidade das transações de créditos de carbono. A indústria automotiva, ao adotar práticas de compensação de emissões, poderia avançar mais rapidamente em direção às metas de neutralidade de carbono, uma vez que o mercado de carbono possibilita a implementação de projetos de compensação ambiental que vão além das fronteiras nacionais.
Além do mercado de carbono, a CNI também enfatizou a importância de estratégias de adaptação climática para o setor automotivo. Isso inclui medidas de adaptação às mudanças climáticas que possam impactar a cadeia produtiva, desde a obtenção de matérias-primas até o desenvolvimento de veículos capazes de operar em ambientes cada vez mais extremos.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apresentou projeções otimistas para o mercado de veículos elétricos e híbridos no Brasil. Em estudo divulgado antes da COP29, a Anfavea estima que, até 2030, mais de 50% das vendas de veículos no país serão de modelos eletrificados, incluindo híbridos e elétricos. Esse avanço reflete o compromisso do setor automotivo em reduzir sua pegada de carbono e adotar tecnologias que minimizem o impacto ambiental do transporte.
Para que essa previsão se concretize, a Anfavea aponta a necessidade de uma infraestrutura de recarga que acompanhe o crescimento da frota de veículos elétricos e híbridos. Isso inclui a instalação de postos de carregamento em vias urbanas, rodovias e centros comerciais, facilitando o uso dos veículos e incentivando a adesão dos consumidores a essa tecnologia. Além disso, a Anfavea sugere que programas de incentivo fiscal para veículos sustentáveis sejam mantidos e ampliados nos próximos anos, promovendo a popularização desses modelos no mercado brasileiro.
Outro ponto importante abordado pela Anfavea é o desenvolvimento de tecnologias de reciclagem para baterias de veículos elétricos, uma vez que a correta destinação e reutilização desses componentes é essencial para evitar danos ambientais e reduzir o consumo de recursos naturais.
A COP29 também ressaltou a importância da inovação tecnológica para a sustentabilidade do setor automotivo. Empresas e representantes do setor destacaram os avanços em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para reduzir emissões, aumentar a eficiência energética e viabilizar a produção de veículos mais sustentáveis. Entre as inovações em destaque estão as baterias de maior durabilidade, sistemas de recarga rápida e a aplicação de inteligência artificial para otimizar o consumo de energia nos veículos.
A transição para tecnologias mais limpas exige investimentos significativos em pesquisa e desenvolvimento, o que representa um desafio para fabricantes, especialmente os de pequeno e médio porte. Nesse sentido, parcerias público-privadas foram apontadas como uma alternativa para alavancar a criação e a aplicação dessas tecnologias. Além disso, a indústria automotiva pretende explorar novas fontes de financiamento, como fundos climáticos internacionais, para viabilizar a transição para veículos de baixo carbono.
Outros avanços incluem a implementação de plataformas de conectividade nos veículos, permitindo o monitoramento em tempo real de dados de consumo e desempenho. Isso permite que os condutores adotem práticas de direção mais sustentáveis e que as fabricantes desenvolvam veículos cada vez mais eficientes.
A COP29 trouxe à tona as perspectivas para o futuro do setor automotivo em um cenário de crescente preocupação com a sustentabilidade. Com a transição global para fontes de energia renovável e a pressão para a redução de emissões de carbono, o setor automotivo precisa se adaptar a um novo paradigma de mobilidade sustentável. Essa transição, segundo especialistas, deve ocorrer de forma gradual, mas acelerada, com vistas a cumprir as metas internacionais de neutralidade de carbono até 2050.
No Brasil, o compromisso da indústria automotiva em promover essa transformação é evidente nas projeções da Anfavea e nas propostas da CNI. No entanto, a concretização dessas metas depende da cooperação entre o setor privado e o governo, especialmente no que se refere ao desenvolvimento de uma infraestrutura de suporte para veículos elétricos e à criação de incentivos financeiros que facilitem o acesso dos consumidores a tecnologias mais sustentáveis.
Globalmente, o setor automotivo deve enfrentar desafios semelhantes, como a necessidade de expandir a infraestrutura de recarga e a adaptação das cadeias produtivas. Com a adoção de um mercado de carbono e políticas de financiamento climático, espera-se que o setor consiga se alinhar às exigências ambientais e, ao mesmo tempo, fortalecer sua competitividade em um mercado global cada vez mais orientado para a sustentabilidade.