O Brasil é reconhecido como referência global na produção e uso de biocombustíveis. Eles representam cerca de metade do consumo de combustíveis no país, seja em veículos flex ou misturados à gasolina e ao diesel. Recentemente, discussões sobre o futuro da mobilidade no Brasil têm contraposto a adoção de biocombustíveis ao avanço dos veículos elétricos, incentivados por benefícios ambientais e interesses econômicos.
Pontos Principais:
Especialistas como Luiz Augusto Horta Nogueira, professor da Unifei e pesquisador do Nipe-Unicamp, acreditam que o futuro da mobilidade no Brasil não deve ser limitado apenas à eletrificação. Ele sugere que o país explore veículos híbridos que combinem motores elétricos e combustão, utilizando biocombustíveis renováveis, como o etanol. Esses veículos são apontados como mais adequados ao cenário brasileiro por sua eficiência e menores custos ambientais.
Os carros híbridos oferecem benefícios como frenagem regenerativa e menor dependência de baterias grandes e custosas, desafios enfrentados pelos veículos elétricos. A tecnologia híbrida utiliza motores menores para gerar eletricidade, permitindo que o veículo seja mais leve, tenha maior autonomia e utilize biocombustíveis, contribuindo para uma mobilidade mais sustentável.
O Brasil enfrenta pressões externas para aderir à eletrificação em larga escala, especialmente por políticas da União Europeia e de estados norte-americanos. No entanto, Nogueira alerta para os desafios das baterias de veículos elétricos, como o impacto ambiental e os custos de produção, que ainda não foram solucionados completamente.
A Índia, um dos maiores mercados do mundo, também está adotando uma abordagem mista. O país planeja aumentar a mistura de etanol à gasolina para 20% e investir em veículos híbridos flex fuel, inspirando-se no modelo brasileiro. Essa iniciativa foi reforçada durante o G20, onde países asiáticos destacaram o etanol como uma alternativa viável e estratégica.
Indústrias automobilísticas globais, como Toyota e Honda, também apostam nos veículos híbridos. A Toyota, maior montadora mundial, lidera com modelos como o Prius, que combina eficiência, menor emissão de gases e custos reduzidos. Essa visão contrasta com a de montadoras europeias, que priorizam a eletrificação pura.
Enquanto isso, o Brasil continua desenvolvendo tecnologia híbrida com etanol, que apresenta emissões quase neutras, pois o CO2 emitido durante a combustão é reabsorvido pela cana-de-açúcar. No entanto, o futuro dessa tecnologia depende de estratégias globais das montadoras, que podem priorizar veículos elétricos em regiões mais avançadas na eletrificação.
Por outro lado, especialistas como Pedro Côrtes, da USP, destacam que a transição energética brasileira começou há décadas, com o Proálcool e o desenvolvimento de veículos flex. A hibridização é vista como um próximo passo lógico, mas o país deve monitorar a rápida evolução tecnológica para não ficar atrás no cenário global.
Os desafios da eletrificação, como a infraestrutura para recarga e o custo das baterias, ainda colocam os veículos híbridos como uma solução mais prática no curto e médio prazo. No entanto, as mudanças nas regulamentações internacionais, como a proibição de motores a combustão na Europa e em parte dos EUA até 2035, influenciarão diretamente as decisões do setor automotivo.
O Brasil tem uma oportunidade única de combinar sua liderança em biocombustíveis com a tecnologia híbrida, garantindo uma transição energética sustentável e viável para o país. A aposta em inovação local e em parcerias estratégicas com mercados como Índia e Japão pode fortalecer essa posição.