Analista diz que Ford, GM e Stellantis deveriam sair da China

O Bank of America aconselha Ford, GM e Stellantis a abandonarem o mercado chinês devido à intensa competição e custos elevados. A GM viu sua participação de mercado na China cair de 15% em 2015 para 8,6% em 2023, com lucros reduzidos em 78,5%. A saída da China permitiria cortar custos, investir em veículos elétricos e competir melhor com a Tesla, que tem custos de produção mais baixos e é bem-sucedida na China sem subsídios estatais.
Publicado em Notícias dia 23/06/2024 por Alan Corrêa

A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China tem se intensificado nos últimos anos. Recentemente, o governo norte-americano anunciou um aumento significativo nos impostos sobre a entrada de veículos produzidos na China, elevando a taxa de 25% para 100%. Esta medida tem como objetivo proteger a indústria automotiva dos EUA, mas também intensifica as tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo.

Os chineses, por sua vez, são frequentemente criticados por não seguirem rigidamente as leis de mercado estipuladas pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Essas leis limitam as ajudas dos estados aos seus construtores e garantem que todos os países membros cumpram as regras do jogo de forma justa. A falta de cumprimento dessas regras pela China cria um ambiente de competição desleal para fabricantes estrangeiros, incluindo os norte-americanos.

O Bank of America (BoA), por meio de seus analistas como John Murphy, tem aconselhado os principais fabricantes de automóveis dos Estados Unidos a reconsiderarem sua presença no mercado chinês. A recomendação inclui a Ford, a General Motors (GM) e a Stellantis, empresa que atualmente controla marcas como Chrysler, Dodge, RAM e Jeep.

Queda de Participação no Mercado Chinês

O Bank of America recomenda que Ford, GM e Stellantis abandonem o mercado chinês. A intensa competição e os altos custos de produção estão prejudicando a lucratividade dessas empresas.
O Bank of America recomenda que Ford, GM e Stellantis abandonem o mercado chinês. A intensa competição e os altos custos de produção estão prejudicando a lucratividade dessas empresas.

A participação de mercado da GM na China tem diminuído drasticamente nos últimos anos. Em 2015, a GM detinha uma participação de 15%, que caiu para apenas 8,6% em 2023. Essa queda significativa refletiu diretamente nos lucros da divisão chinesa da GM, que despencaram 78,5% entre 2014 e 2023. Esta redução de lucros ocorre em um contexto de aumento de impostos e competição desleal no mercado chinês.

O mercado interno chinês consome cerca de 22 milhões de automóveis por ano, enquanto a capacidade de produção instalada no país é de 44 milhões de unidades por ano. Para evitar a elevação do custo por unidade produzida, o governo chinês continua a reforçar os incentivos aos construtores locais, tanto para vendas no mercado doméstico quanto para exportações. Esta estratégia dificulta ainda mais a competição para os fabricantes estrangeiros.

Além da redução de participação e lucros, os fabricantes norte-americanos enfrentam desafios adicionais. O custo de produção de veículos elétricos na China é significativamente mais alto para as montadoras dos EUA em comparação com empresas como a Tesla, que produz a maioria de seus componentes internamente, reduzindo consideravelmente os custos.

Recomendações do Bank of America

O Bank of America tem aconselhado os fabricantes norte-americanos a focarem em reduzir os custos de seus veículos elétricos. A estratégia sugerida inclui a produção interna de células para baterias, motores elétricos e plataformas específicas para otimizar a eficiência. Esta abordagem pode ajudar a reduzir os custos de produção e aumentar a competitividade no mercado global.

Os analistas do BoA também recomendam que a Ford, GM e Stellantis abandonem o mercado chinês. A sugestão é que essas empresas concentrem seus esforços em mercados onde podem ser mais competitivas e lucrativas. Abandonar a China permitiria cortar custos e redirecionar investimentos para o desenvolvimento de veículos elétricos.

A retirada do mercado chinês também poderia ajudar essas empresas a competir de forma mais eficaz com a Tesla, que tem sido uma concorrente formidável tanto nos EUA quanto na China. Produzindo internamente a maioria de seus componentes, a Tesla consegue manter seus custos baixos e oferecer preços competitivos.

Comparação com a Tesla

A Tesla tem sido destacada como um exemplo de eficiência no mercado automotivo. Ao produzir internamente seus motores, baterias, plataformas e software, a Tesla consegue reduzir significativamente seus custos de produção. Estima-se que os custos de produção da Tesla sejam cerca de $17.000 menores por veículo em comparação com os das montadoras tradicionais dos EUA.

Além de seus custos reduzidos, a Tesla também consegue competir de igual para igual com os fabricantes locais na China. A empresa tem sido bem-sucedida em penetrar no mercado chinês sem a necessidade de subsídios estatais, algo que os fabricantes tradicionais dos EUA têm dificuldade em igualar.

Os analistas do BoA destacam que, para competir efetivamente com a Tesla, as montadoras tradicionais dos EUA precisam fazer mudanças significativas em suas estratégias de produção e mercado. Isso inclui a potencial retirada do mercado chinês e a concentração de esforços em mercados mais lucrativos.

Perspectivas Futuras

A recomendação do Bank of America para que Ford, GM e Stellantis abandonem o mercado chinês é vista como um “remédio difícil” mas necessário. Embora essa medida possa inicialmente parecer drástica, os analistas acreditam que é uma estratégia que faz sentido do ponto de vista de lucratividade e competitividade a longo prazo.

Concentrar-se em mercados onde as empresas já têm uma forte presença, como os EUA, pode permitir que essas montadoras invistam mais em inovação e produção eficiente de veículos elétricos. Este enfoque poderia ajudar a reduzir a diferença de custos com a Tesla e melhorar a competitividade global dessas empresas.

Além disso, a saída do mercado chinês permitiria que as montadoras norte-americanas se dessem melhor em mercados menos competitivos e mais lucrativos. Isso poderia incluir mercados emergentes onde a demanda por veículos elétricos está crescendo, mas onde a competição não é tão intensa quanto na China.

A decisão de sair da China não será fácil nem isenta de riscos, mas pode ser um passo necessário para garantir a sobrevivência e prosperidade a longo prazo dos fabricantes norte-americanos de automóveis.

*Fonte: Observador e NoticiasAutomotivas.