Brasil enfrenta desafio com estoque de 80 mil veículos elétricos chineses encalhados

O mercado automotivo brasileiro lida com o excesso de 80 mil veículos elétricos e híbridos chineses em estoque. As montadoras importaram massivamente para antecipar o aumento de impostos, e agora buscam estratégias para evitar prejuízos enquanto tentam adaptar o mercado.
Publicado em Notícias dia 10/09/2024 por Alan Corrêa

O mercado automotivo brasileiro está enfrentando um desafio considerável com o acúmulo de veículos elétricos e híbridos chineses nos estoques. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) revelou que mais de 80 mil unidades de carros eletrificados chineses permanecem sem compradores no Brasil, gerando preocupações sobre a capacidade do mercado em absorver essa quantidade de veículos.

O mercado brasileiro enfrenta um desafio com o acúmulo de 80 mil veículos elétricos chineses em estoque. A Anfavea alerta que o mercado não está preparado para absorver essa quantidade.
O mercado brasileiro enfrenta um desafio com o acúmulo de 80 mil veículos elétricos chineses em estoque. A Anfavea alerta que o mercado não está preparado para absorver essa quantidade.

Esse excesso de estoque é resultado de uma estratégia das montadoras de importar veículos em massa para se antecipar às novas alíquotas de importação, que começaram a ser retomadas em janeiro de 2024. Segundo a Anfavea, as montadoras trouxeram uma grande quantidade de veículos elétricos ao país antes que o aumento das tarifas tornasse as importações mais caras. O imposto de importação para veículos elétricos começou em 10% e deverá chegar a 35% até 2026. Esse cenário pode afetar diretamente a capacidade das montadoras de escoar o estoque existente, além de criar um desequilíbrio entre a oferta e a demanda.

O presidente da Anfavea, Márcio Leite, destacou que o mercado brasileiro ainda não está totalmente preparado para lidar com uma quantidade tão grande de veículos elétricos e híbridos, principalmente considerando que o Brasil tem uma infraestrutura que está em desenvolvimento. Ele apontou que, além da questão da infraestrutura para veículos elétricos, o país possui uma forte indústria de biocombustíveis, que é uma alternativa sustentável para a descarbonização da frota nacional.

Esse acúmulo de veículos elétricos também pode ter impactos significativos nos preços, já que as montadoras podem ser forçadas a realizar promoções ou conceder descontos para reduzir o estoque. Essa pressão por vender os veículos a preços mais baixos pode afetar a margem de lucro das concessionárias e montadoras, o que, por sua vez, pode desacelerar o ritmo de importação de novos modelos.

Além disso, a Anfavea defende um aumento mais acelerado da alíquota de importação de veículos elétricos para atingir os 35% mais rapidamente. Isso poderia ajudar a controlar a entrada de novos veículos no país enquanto o mercado ainda tenta se ajustar ao grande volume de carros já presentes. A expectativa é que, com a inauguração das fábricas de montadoras chinesas no Brasil, como a BYD na Bahia e a GWM em São Paulo, a dependência de importações seja reduzida.

O governo federal também tem agido nesse sentido, implementando um plano gradual de alíquotas de importação para controlar o fluxo de veículos elétricos e híbridos no país. Essa medida visa incentivar a produção local e criar condições para que o mercado brasileiro se adapte à nova realidade dos veículos eletrificados. No entanto, até que a produção nacional esteja em pleno funcionamento, o Brasil corre o risco de se tornar um “cemitério” de carros elétricos, com um grande número de veículos encalhados.

Outro ponto que a Anfavea destaca é a reforma tributária em curso, que pode beneficiar a indústria automotiva ao reduzir a carga tributária sobre as exportações. O presidente da Anfavea vê com otimismo essa mudança, pois ela aumentaria a competitividade dos veículos produzidos no Brasil no mercado internacional. No entanto, ainda há desafios em torno da inclusão dos veículos no imposto seletivo, uma nova tributação que pode afastar os consumidores de veículos mais modernos e tecnologicamente avançados.

O futuro do setor automotivo no Brasil dependerá de uma combinação de fatores, como a adaptação do mercado à nova tecnologia dos veículos elétricos, o desenvolvimento da infraestrutura e a implementação de políticas públicas eficazes. O cenário atual indica que o Brasil precisa encontrar um equilíbrio para absorver os veículos que já estão no país sem comprometer a saúde financeira das montadoras e concessionárias.

Fonte: R7 e Poder360.