Você já notou nas ruas que os carros estão ficando cada vez mais parecidos? Não é apenas impressão, eles de fato estão se aproximando de uma mesma identidade. A principal razão não está em uma tentativa de plágio ou por necessidades mecânicas, mas devido às leis que regulamentam a fabricação de veículos.
Embora os carros – com os avanços tecnológicos – estejam ficando mais modernos, o papel dos designers está cada vez mais restrito. A consequência é que os carros estão ficando com um padrão de design muito parecido.
A razão desta limitação está nas legislações cada vez mais rigorosas e que impõe desafios para a liberdade e imaginação dos designers.
Com objetivo de evitar danos aos pedestres, sobretudo tirar vidas, as leis estão estabelecendo parâmetros para o desenvolvimento dos carros que circunscrevem o poder de criação.
Este nova evolução dos carros ainda passam despercebidas para muitos, mas se fizermos uma comparação com os modelos das décadas de 60 e 70 veremos que as montadoras estão perdendo sua identidade.
A parte frontal dos carros, por exemplo, tem estruturas projetadas para atenuar o impacto em caso de batidas ou atropelamentos, mas que criam um contorno parecido no desenho.
O controle chega ao ponto de delimitar os adornos na dianteira. A Jaguar retirou o símbolo característico da empresa do capô para evitar um ferimento fatal em um atropelamento.
Já o símbolo Espírito do Êxtase tradicional da Rolls-Royce encontrou a saída do recolhimento elétrico para não sumir, enquanto a Mercedes-Benz criou uma estrela que se deforma no momento da colisão.
Para evitar que as pernas do pedestre em um atropelamento fiquem presas embaixo do veículo, estão sendo colocados chanfros laterais que impedem a pessoa para os lados.
Também está sendo adotado o sistema soft-nose, que aumenta a região de absorção de impacto com o avanço do para-choque para além da grade frontal.
No interior do veículo, a inclusão das barras de proteção fez as portas ficarem mais grossas, bem como as bolsas de airbags ocupam mais espaço dentro do painel.
A inclinação da coluna A para aumentar a resistência em impactos tem prejudicado a visibilidade por dentro. Além de que nem todos modelos conseguem utilizar colunas mais finas com os aços temperado em altas temperaturas e acabam tendo que engrossar com mais material.
O uso de peças de borracha na parte inferior dos veículos foi a medida utilizada para a redução do ângulo de entrada, que ficou menor com a colocação de elementos aerodinâmicos na parte de baixo para beneficiar o consumo.
Outro problema que tem sido contornado é com a grade do radiador, que está sendo substituída por persianas móveis ou grades falsas, a fim de não prejudicar a eficiência energética e a aerodinâmica.
A proibição de luzes sequenciais em alguns países encontrou a alternativa com a reprogramação das luzes em LED ou eletrônicas.
Mas nem tudo é negativo com os requisitos da legislação. O espaço interno ganhou bastante otimização com o trem de força.
Com a chegada dos modelos elétricos, a carroceria teve que se elevar, pois as baterias ficam mais bem alojadas no assoalho e melhoram o centro de gravidade.
A BMW i8, por exemplo, adotou um corredor central mais elevado para a instalação da bateria, a fim de evitar a elevação de toda a carroceria.
Em realidade, o designer dos elétricos é o que está enfrentando maior dificuldade de criar uma personalidade distinta, basta notar que em geral todos modelos tem um padrão bem parecido.
É claro que as regulamentações tendo em vista diminuir os acidentes são favoráveis e fundamentais. Por outro lado, o que está sendo levantado é que a fabricação de um veículo consiste na conjunção de diversos setores.
Com efeito, este ponto de equilíbrio é muito frágil, mas a prioridade deve ser sempre a vida humana dos que estão dentro e fora do veículo.
Sem bom senso as soluções podem resolver um problema criando outro. A projeção do topo do para-brisa, por exemplo, quanto mais baixa aumenta a resistência aerodinâmica. Por outro lado, não se pode esquecer que o condutor precisa enxergar um semáforo sem precisar fazer movimentos.