Série Energia: Iniciativa do governo busca descarbonizar o setor de transportes no Brasil

O sucesso dessa iniciativa depende de um equilíbrio entre os objetivos econômicos, sociais e ambientais. A transição energética é um processo complexo que exige o envolvimento de diversos setores e a adoção de soluções que sejam sustentáveis a longo prazo.
Publicado por Alan Corrêa em Mobilidade dia 20/10/2024

O governo brasileiro lançou o Projeto Combustíveis do Futuro, que busca reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) no setor de transportes, utilizando biocombustíveis e tecnologias sustentáveis. Essa iniciativa visa alinhar o Brasil aos compromissos internacionais de sustentabilidade, como o Acordo de Paris, e ao mesmo tempo promover a inovação tecnológica e a criação de empregos no setor.

Pontos Principais:

  • Projeto Combustíveis do Futuro visa descarbonizar o setor de transportes no Brasil.
  • Iniciativa foca no uso de biocombustíveis, como etanol de segunda geração e biometano.
  • Desafios incluem evitar dependência prolongada de combustíveis fósseis e impactos ambientais.
  • O projeto pode impulsionar a eletrificação dos transportes e o desenvolvimento de novas tecnologias.

O Brasil possui uma posição estratégica na produção de biocombustíveis, como o etanol de cana-de-açúcar e o biodiesel de soja, que já são amplamente utilizados no mercado interno. O Projeto Combustíveis do Futuro amplia essa perspectiva, incentivando o desenvolvimento de tecnologias como o etanol de segunda geração, biometano e combustíveis sustentáveis para a aviação, conhecidos como SAF.

Projeto "Combustíveis do Futuro" promove o uso de combustíveis renováveis e tecnologias limpas para reduzir emissões - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Projeto “Combustíveis do Futuro” promove o uso de combustíveis renováveis e tecnologias limpas para reduzir emissões – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

A iniciativa promove parcerias entre governo, indústria e academia, criando um ambiente favorável à pesquisa e inovação tecnológica no setor energético. No entanto, especialistas apontam que a transição para combustíveis renováveis precisa ser implementada com cuidado para evitar a dependência continuada de combustíveis fósseis. Mesmo os biocombustíveis misturados à gasolina e ao diesel, embora reduzam as emissões, não eliminam completamente a queima de combustíveis fósseis.

Outro ponto de atenção é a necessidade de garantir que a expansão da produção de biocombustíveis não cause problemas ambientais, como o desmatamento ou a disputa por terras agrícolas, que poderiam ser usadas para a produção de alimentos. A sustentabilidade deve ser considerada de forma mais ampla, levando em conta não só a redução de emissões, mas também a preservação dos ecossistemas e a segurança alimentar.

Alguns críticos sugerem que a ênfase nos biocombustíveis pode favorecer interesses econômicos de grandes corporações, em detrimento de pequenos produtores rurais e da biodiversidade. Apesar dessas críticas, o projeto oferece uma oportunidade para o Brasil liderar uma transição energética sustentável, desde que sejam adotadas políticas que incentivem também a eletrificação dos transportes e o uso de tecnologias emergentes, como o hidrogênio verde.

A transição para um setor de transportes mais sustentável no Brasil também requer investimentos em infraestrutura, principalmente para apoiar a adoção de veículos elétricos. Além disso, o desenvolvimento de tecnologias como o hidrogênio verde pode ser uma peça-chave no longo prazo para alcançar emissões zero.

O Brasil já é um importante produtor de etanol e biodiesel, mas o Projeto Combustíveis do Futuro pretende elevar esse papel, promovendo também combustíveis alternativos que possam ser aplicados em diferentes setores, como a aviação, que ainda depende fortemente de combustíveis fósseis.

Fonte: USP.