A expansão das montadoras chinesas no Brasil se intensifica com a construção de novas fábricas e o aumento das exportações de veículos elétricos para o país, em resposta aos desafios impostos pelas novas políticas comerciais dos Estados Unidos e as preocupações regulatórias na Europa. O cenário mudou significativamente após os Estados Unidos anunciarem uma tarifa de 100% sobre carros elétricos importados da China, o que levou as empresas a buscar alternativas em mercados emergentes como o Brasil e o México.
Empresas como a BYD e a Great Wall Motor estão entre as que optaram por estabelecer operações de produção local no Brasil. A BYD planeja iniciar a produção em uma nova fábrica em 2025, que será a primeira fora da Ásia. Por outro lado, a Great Wall espera começar a produção de SUVs no Brasil antes do final do ano, com uma fábrica que está sendo construída em um local anteriormente ocupado pela Mercedes Benz.
Essas ações são parte de uma estratégia para contornar barreiras comerciais crescentes e aproveitar as oportunidades nos mercados latino-americanos, que são vistos como menos restritivos em comparação com os mercados desenvolvidos. Além de evitar tarifas elevadas, a produção local ajuda a fortalecer a presença de mercado dessas marcas em regiões estratégicas e a se adaptar mais rapidamente às demandas e preferências dos consumidores locais.
O governo brasileiro, por sua vez, reintroduziu tarifas sobre carros elétricos que haviam sido eliminadas em 2015. Atualmente, esses veículos estão sujeitos a uma tarifa de 10%, que está programada para aumentar para 18% em julho e 35% em julho de 2026. Essa política visa equilibrar os incentivos para a indústria automobilística local e os importadores, além de estimular o investimento em tecnologias de produção mais limpas dentro do país.
Além dos desafios tarifários, as montadoras chinesas também enfrentam a necessidade de cumprir regulamentos locais, como a regra que exige que uma porcentagem significativa dos componentes dos veículos seja adquirida localmente para que os carros produzidos no Brasil possam ser exportados para outros países da América Latina sem tarifas. Isso representa uma barreira técnica e logística, já que muitos componentes ainda precisam ser importados da China, pelo menos nos estágios iniciais.
No contexto mais amplo da indústria automotiva, a chegada das montadoras chinesas ao Brasil está alinhada com o objetivo mais amplo do governo de reindustrializar o país e promover o desenvolvimento tecnológico. Empresas estabelecidas como Stellantis, Toyota e Volkswagen também têm feito grandes investimentos no Brasil, com a maioria dos recursos sendo direcionada para a produção de veículos híbridos que podem operar tanto com gasolina quanto com etanol.
A competição no mercado de veículos elétricos ainda é relativamente pequena no Brasil, mas está se intensificando. A capacidade das montadoras chinesas de expandir sua participação de mercado será testada à medida que enfrentam não apenas as barreiras comerciais e regulatórias, mas também a concorrência de marcas globais bem estabelecidas que estão investindo significativamente em tecnologia de propulsão alternativa.
Essa dinâmica do mercado automotivo no Brasil reflete um padrão maior de globalização industrial, onde as empresas estão cada vez mais obrigadas a adaptar suas estratégias de produção e comercialização em resposta a um ambiente regulatório e comercial em rápida mudança. Para as montadoras chinesas, o Brasil não apenas serve como um mercado chave, mas também como uma plataforma estratégica para acessar toda a América Latina, aproveitando as relações econômicas regionais e a proximidade geográfica para otimizar sua logística e operações de distribuição.
Enquanto isso, a presença crescente das montadoras chinesas no Brasil também traz benefícios indiretos, como a criação de empregos e a transferência de tecnologia, que podem contribuir para o desenvolvimento econômico local e a diversificação industrial. O sucesso dessas empresas no Brasil e sua capacidade de integrar-se à cadeia de valor local serão cruciais para suas ambições de longo prazo de dominar os mercados emergentes e contornar as crescentes pressões protecionistas em outras partes do mundo.