Depois de declarar que tomaria medidas para melhorar a situação do trânsito no Brasil como aumento do tempo de validade da CNH e diminuição das lombadas eletrônicas, o Presidente Jair Bolsonaro anunciou o cancelamento da instalação de 8 mil radares em estradas do país.
A medida que promete agradar quem já não aguenta mais recorrer de multas por velocidade, foi anunciada neste domingo (31).
“Após revelação do @MInfraestrutura de pedidos prontos de mais de 8.000 novos radares eletrônicos na rodovias federais do país, determinei de imediato o cancelamento de suas instalações. Sabemos que a grande maioria destes têm o único intuito de retomo financeiro ao estado”, escreveu o presidente em sua conta oficial do Twitter.
Bolsonaro disse ainda que no momento de renovação dos contratos de rodovias concedidas, fará uma avaliação sobre a necessidade de que radares já instalados continuem onde estão.
“Ao renovar as concessões de trechos rodoviários, revisaremos todos os contratos de radares verificando a real necessidade de sua existência para que não sobrem dúvidas do enriquecimento de poucos em detrimento da paz do motorista”, disse.
*Com informações da Agência Brasil
A deputada federal Christiane Yared (PR) publicou uma carta aberta ao presidente da República Jair Bolsonaro (PSL), na tarde deste domingo onde critica a postura do governo de suspender a instalação de 8 mil radares em rodovias federais. Confira na íntegra:
“Caro Sr. Presidente,
Na manhã deste domingo, enquanto preparava o almoço da minha família e via o lugar vago na mesa que foi deixado pelo filho que foi assassinado no trânsito, fui pega de surpresa ao receber a notícia que o senhor mandou suspender mais de 8 mil pedidos de instalação de radares em rodovias federais. Confesso, sinceramente, que torci para que não fosse verdade, mas é. A velocidade é o maior fator de mortes no mundo!
Em sua fala, o senhor justificou a decisão tendo como base a revisão dos contratos de radares para a verificação da necessidade de sua existência. Já que, para o senhor, há enriquecimento de poucos em detrimento da paz do motorista. Caro senhor presidente, a paz do motorista acontece quando ele se sente seguro na rodovia, quando sabe que há um controle pensado para salvar vidas, a dele, a da sua família, dos seus entes queridos.
Presidente, entendo a preocupação do senhor em extinguir o que chamamos de “indústria da multa”. Acho válido e concordo com a intenção, mas não da forma como está sendo feita. Caso o senhor não saiba, a Comissão de Viação e Transporte da Câmara dos Deputados aprovou a proposta que altera o CTB para proibir qualquer relação entre a remuneração de empresas responsáveis pela instalação e manutenção de radares e o valor ou o percentual de multas aplicadas. O Projeto de Lei, da qual sou relatora, não lhe parece mais sensato?
Quem fala com o senhor é uma congressista que, acima de tudo, é uma mãe que perdeu o filho em uma tragédia de trânsito.
A luta por uma realidade diferente nas vias do nosso país me trouxe até aqui, mas não é preciso perder um filho para saber que o trânsito necessita de regras, de fiscalização e punição para que funcione da melhor forma possível, assim como acontece numa sociedade. O senhor sabe muito bem disso, vem de uma filosofia militar.
Há dois mandatos, pauto minhas ações pelo endurecimento das leis do trânsito porque, infelizmente, a irresponsabilidade de muitos transforma nossas vias em zona de guerra. As mortes no trânsito são reais, presidente, e atitudes como essa do senhor vão triplicar o derramamento de sangue nos asfaltos da nossa nação.
Presidente, o senhor sabia que o trânsito brasileiro mata mais que arma de fogo? O senhor se mostra tão preocupado com a violência que nos assola nas cidades, mas esquece da que acontece no trânsito.
Um país lavado em sangue, ruas, calçadas, vias e rodovias, sangue de famílias inteiras, sonhos e vidas interrompidas por um país que não educa, não fiscaliza e não pune!”