A simples discussão sobre permitir a emissão da CNH sem aulas obrigatórias nas autoescolas já criou um impacto econômico visível em Minas Gerais. Uma pesquisa feita com 521 empresas mostra retração forte nas matrículas e no caixa, mesmo sem nenhuma mudança oficial em vigor.

Os dados revelam que 98,08 por cento dos Centros de Formação de Condutores registraram queda de faturamento nos últimos dois meses. Quase metade relata baixa superior a 60 por cento nas matrículas, sinal direto de insegurança do público e desorganização no fluxo financeiro das empresas.
Com receitas menores, 77,5 por cento das autoescolas reduziram custos, um movimento que inclui cortes de jornada e demissões. Em 78 por cento desses casos, ao menos um funcionário foi desligado, e há registros de empresas que dispensaram mais de dez pessoas.
O cenário já provoca encerramento de atividades em várias cidades. A pesquisa também mostra que 64,3 por cento dos moradores de municípios com apenas um CFC teriam de viajar cerca de 60 quilômetros se a escola local fechar, criando um gargalo de acesso à primeira habilitação.
A proposta do Ministério dos Transportes prevê retirar a obrigatoriedade de aulas práticas em CFCs. O candidato poderia realizar a prova mesmo sem frequentar autoescola, aprendendo por conta própria ou com instrutores independentes, o que reduziria os custos em até 80 por cento.
O tema passou por consulta pública e está em análise das contribuições recebidas. Como basta uma Resolução do Contran, não há necessidade de votação no Congresso, mas a Câmara criou uma Comissão Especial para aprofundar o debate.
Representantes do setor afirmam que a discussão tem sido conduzida sem estudos técnicos e sem avaliar impactos sociais e de segurança. Para o sindicato, a mudança representa um risco direto na formação de novos motoristas, afetando a redução de acidentes alcançada nas últimas décadas.
Segundo a CNN, o levantamento aponta que 53,85 por cento dos CFCs acreditam que a mudança aumentará acidentes de trânsito, e 19,23 por cento enxergam queda na qualidade da formação. As empresas também citam risco ampliado de desemprego e dificuldade de acesso ao processo de habilitação em regiões pequenas.
O debate segue aberto, mas o impacto antecipado mostra que, mesmo antes da definição final, o setor já sente o peso econômico da possível mudança no modelo da CNH.