O chamado “custo Brasil” é o sistema tributário brasileiro que atua sobre os veículos automotores, que é considerado o maior entrave na indústria automobilística.
Analistas apontam que o país tem um dos maiores tributos, em relação a outras nações, sendo mais que o dobro dos países da Europa, e mais de três vezes o que se pratica nos Estados Unidos.
Primeiro é preciso entender que o chamado “custo Brasil” não incide apenas sobre a produção de veículos, mas em todos os âmbitos da produção realizada no país. Claro que no setor automobilístico, por diversos fatores, essa percepção é maior.
Mas vamos tentar entender um pouco mais sobre esse termo no que se refere aos carros, já que é o tema do nosso blog.
A produção de um veículo traz para a companhia diversos tipos de gastos. Um deles é o “custo direto”, que está diretamente relacionado com a despesa pela produção do veículo. Aqui entram todos os elementos que compõe o carro (pneus, chapa de aço, componentes eletrônicos, etc.).
Depois temos ainda os custos indiretos, que não estão diretamente ligados à produção, mas que são indispensáveis. Por exemplo, aluguel de galpão, administração, limpeza, portaria, segurança, entre outros.
Outra parte importante é o lucro, que evidentemente faz parte de qualquer atividade empresarial, do contrário não faria sentido a fábrica existir. Por fim temos o imposto, que existe em qualquer parte do mundo.
Mas no Brasil temos um elemento a mais, que chamamos “carinhosamente” – só que não – de custo Brasil, que faz o serviço custar muito mais caro do que em outros lugares ao redor do globo. Mas não é tudo, sobre esse custo Brasil ainda incide imposto (acredite, é isso mesmo). É como pagar imposto pela burocracia desnecessária e ineficiente…
Esse custo Brasil só não incide sobre os insumos que estão no produto final. Todo o restante entra no pacote. Para saber o que é insumo, entretanto, o governo exige que a empresa preencha uma série de papéis – aumentando a burocracia e consequentemente os custos da empresa – e revelando, mesmo que de forma indireta, o seu segredo industrial, apenas para que o Fisco controle cada elemento da compra realizada.
Resumindo, o custo Brasil é uma série de dificuldades de ordem burocrática, econômica, fiscal e de infraestrutura que impactam negativamente o ambiente de negócio do país. Esse entrave dificulta tanto ao empresário empreender – ou montar sua empresa – quanto ao consumidor, que pagará mais caro pelo produto que depende desse sistema ineficiente.
O primeiro aspecto negativo do custo Brasil é a burocracia. Por exemplo, para abrir uma empresa no Brasil o tempo médio é de 79 dias, praticamente três meses apenas para poder começar funcionar. Isso porque são necessários cerca de 11 procedimentos para formalizar a abertura.
Evidentemente, é muito difícil que uma pessoa leiga consiga fazer isso sozinha, sem a ajuda de um profissional qualificado, o que gera um custo a mais.
O segundo vilão dessa história, acredite, é a péssima infraestrutura do país. As condições precárias de estradas, portos e ferrovias impactam diretamente sobre o ambiente de produção, especialmente aquela em larga escala.
O transporte das mercadorias – insumos ou produtos, tanto faz – é mais custoso para a empresa, e mais lento de uma forma geral, que por si só já aumenta o custo e atrasa o lucro. Isso sem falar na falta de segurança, que com frequência faz perder a mercadoria, outro fator que aumenta o custo para o consumidor final.
O outro vilão, talvez o mais assustador, é a elevada carga tributária. Esse é o fator que mais dificulta a criação de novas empresas e o aumento da concorrência no mercado (que reduziria muito o valor final dos produtos para ganhar a concorrência).
As pequenas empresas, desde o início de suas atividades, suportam uma alta carga tributária. Isso dificulta oferecer um preço competitivo em relação às grandes empresas, o que significa praticamente sua extinção a curto ou longo prazo.
Além disso, a falta de incentivo para produzir inibe muitas pessoas de criarem produtos que poderiam se tornar referência, melhorando o ambiente econômico do país e aumentando as exportações com maior valor agregado.
Outro grande vilão é composto pelos custos trabalhistas. Além da imensa burocracia para realizar uma simples contratação, que já envolve diversos custos adicionais, o protecionismo exacerbado inspira uma baixa produtividade.
Além disso, a situação lamentável da Educação como um todo, acaba gerando para o mercado de trabalho uma baixa capacitação do trabalhador.
Mas o pior mesmo é o custo da CLT, que pode chegar a custar até 70% a mais do que o trabalhador ganha em sua folha de pagamento. Dessa forma, o empregador paga muito e o trabalhador recebe pouco.
As consequências desse ambiente econômico insalubre são diversas, e todas ruins. Para começar, toda essa burocracia inibe as iniciativas de diversas possíveis pequenas empresas, que não iniciam suas atividades ou pesquisa devido ao alto custo ou à ausência de incentivo.
Com isso, muita gente pratica atividade empresarial de maneira informal. Assim, os seus impostos não são arrecadados, colocando todo o peso da carga tributária sobre as empresas formalizadas. Se a situação fosse mais propícia, as empresas informais contribuiriam com a sociedade e todos se beneficiariam.
Outra consequência catastrófica é que o custo da CLT aliado com a alta carga tributária gera um número alto de demissões muito grande. A redução do quadro de funcionários, por sua vez, diminui a capacidade produtiva da empresa e, em muitos casos, um declínio na qualidade do produto ou serviço prestado.
Ao final de um processo desgastante e muitas vezes irreversível para o empresário, a empresa é obrigada a fechar as portas e declarar falência. Ou então fechar as portas no Brasil e ir para outro país, como vimos recentemente com a Ford.