Um estudo realizado pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) revelou que algumas das marcas de pães mais populares no Brasil possuem altos níveis de álcool. A pesquisa testou os pães das líderes de vendas e constatou que 60% dos produtos analisados apresentaram teores alcoólicos que os classificariam como bebidas alcoólicas, caso houvesse uma regulamentação específica para alimentos.
As marcas testadas incluíram Visconti, Bauducco, Wickbold 5 Zeros, Wickbold Sem Glúten, Wickbold Leve, Panco, Seven Boys, Plusvita e Pullman. Dentre essas, apenas Plusvita e Pullman foram aprovadas em todos os testes. A marca Visconti apresentou o maior teor alcoólico, com 3,37%, seguida por Bauducco, com 1,17%, e Wickbold 5 Zeros, com 0,89%.
Segundo Henrique Lian, diretor executivo da Proteste e autor do estudo, a presença de álcool em alimentos não alcoólicos é uma questão grave, especialmente sem a devida identificação nos rótulos. Isso motivou a campanha “Se tem Álcool, todo mundo tem direito de saber”, que busca maior transparência por parte das empresas.
O estudo indica que, se fossem bebidas, alguns pães brasileiros deveriam ter um aviso na embalagem sobre a presença de álcool. A legislação brasileira estabelece que uma bebida não alcoólica deve conter um teor máximo de 0,5% de etanol. No entanto, os pães testados superaram esse limite em alguns casos, o que poderia fazer com que fossem reprovados em um teste de bafômetro.
A substância é comumente associada ao processo de fermentação, onde os açúcares da massa se transformam em álcool e gases, fazendo o pão crescer. Contudo, a maior parte do álcool evapora no forno. A Proteste identificou que algumas indústrias utilizam álcool para diluir conservantes, que são então borrifados sobre os pães para evitar mofo. Aplicações excessivas podem resultar em altos níveis de etanol no produto final.
A Proteste enviou um ofício ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com os resultados do teste. A associação sugere a definição de um percentual máximo de álcool nas mercadorias e ações de fiscalização sobre os teores de conservantes anti-mofo e álcool residual.
As empresas envolvidas responderam ao estudo. O Grupo Wickbold, que detém as marcas Wickbold e Seven Boys, solicitou acesso à metodologia da pesquisa antes de se pronunciar oficialmente. A Pandurata Alimentos, responsável por Bauducco e Visconti, garantiu que adota rigorosos padrões de segurança alimentar e cumpre todas as legislações vigentes.
A Panco, também mencionada no estudo, não respondeu até o fechamento da reportagem. A Proteste continua a buscar regulamentação para garantir que os consumidores sejam devidamente informados sobre a presença de álcool em alimentos.
Fonte: Exame.