O combustível no Brasil está quase se transformando em artigo de luxo reservado apenas à elite, além dos carros caros, o combustível também não agrada o bolso. Há quem diga, jocosamente, que o direito de ir e vir do cidadão está sendo tolhido… ou se vai, ou se volta, as duas coisas fica caro de mais. Em meio a tantas variações de preço como temos visto ultimamente, muita gente se pergunta o que compensa mais: gasolina ou etanol?
A primeira pergunta que as pessoas se fazem, mesmo que não admitam, é se a conta dos 70% realmente funciona. Uma resposta simplória, mas acertada, é “sim”, a conta realmente funciona. Mas vamos entender um pouco melhor essa questão do preço dos combustíveis.
Quando começaram a aparecer os primeiros veículos flex estabeleceu-se que a proporção de rendimento do etanol em relação à gasolina seria de 70%, ou seja, o preço dependeria dessa porcentagem.
Contudo, a tecnologia avançou muito de lá pra cá e as coisas mudaram um pouco. Não apenas esses motores são melhores e respondem de forma mais eficiente aos dois tipos de combustível, como o processo de elaboração do etanol passou por transformações que o deixaram mais eficaz.
Além disso, o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular, responsável pelos testes do Inmetro, não refletem a realidade de modo exato. Isso porque a gasolina que utilizam tem apenas 22% de álcool anidro, enquanto a que encontramos nas bombas tem 27% dessa substância. Ou seja, a gasolina que chega até os consumidores rende um pouco menos.
Mas isso ainda não é tudo. Em teste realizado recentemente pelo Instituto Mauá de Tecnologia, no qual foram utilizados 20 veículos de diferentes marcas e modelos (compactos 1.0 e 1.6, sedã médio e utilitário esportivo) o etanol rendeu entre 70,7% e 75,4% da gasolina nos mesmos percursos e mesmas distâncias.
Isso deixa claro que o etanol rende, no mínimo, 70% da gasolina, mas pode chegar até a 75% conforme o modelo, o motor e as condições gerais. Então sim, a regra dos 70% é válida e ainda deixa uma margem gorda de lucro.
Agora fica fácil fazer as contas ao chegar no posto para abastecer. Se o álcool estiver com preço abaixo dos 70% em relação à gasolina – que tem sido cada vez mais frequente – então ele estará com vantagem financeira. Vamos ver um exemplo.
Num posto na Zona Norte de São Paulo, no dia em que esta matéria foi escrita, o preço do etanol era de R$ 2,39 e o da gasolina era de R$ 3,89. Neste caso, o preço do etanol representa 61% do valor da gasolina, e portanto, compensa bastante, tanto mais que seu rendimento pode até ultrapassar a casa dos 70% como vimos acima.
A conta é bastante simples. O valor da gasolina multiplicado por 0.7 representaria o limite de preço que o etanol poderia ter. Vamos lá, no nosso caso seria 3,89 x 0,7 = 2,72. Ora o preço do etanol está 2,39, ou seja, R$ 0,33 centavos mais barato por litro. Considerando que o tanque médio de um veículo tenha 45 litros de capacidade, a economia seria de R$ 14,85 por tanque.
Claro que cada veículo terá uma reação exclusiva em relação ao combustível, o que apresentamos aqui foi uma média. Mas se quiser saber com exatidão quanto seu carro consome com gasolina e quanto com etanol, para depois descobrir a porcentagem real do seu carro, tem um jeito muito simples.
Apesar de muitos veículos hoje apresentarem a média de consumo no painel de instrumentos, nada como o velho sistema manual para ter certeza de que a conta está certa.
Primeiro complete o tanque com um dos dois combustíveis até que o mecanismo desarme a bomba sozinho. Em seguida, zere o hodômetro parcial – ou anote o número exato da quilometragem total – e rode com o carro por pelo menos 3/4 de tanque. Abasteça novamente e divida a quantidade de litros abastecido pela quilometragem rodada nesse intervalo. Faça isso umas três vezes e encontre o resultado médio.
Depois, faça exatamente o mesmo procedimento com o outro combustível. O ideal é que a primeira vez em que se troca de combustível a conta seja descartada, pois os sensores ainda levarão um tempo para reconhecer o novo combustível, já que as condições de temperatura e quantidade de oxigênio necessárias para que ocorra a combustão é diferente para cada um.
Com as duas médias calculadas será fácil descobrir qual a porcentagem de rendimento do etanol em relação à gasolina, e assim decidir por qual combustível deverá optar na hora de encher o tanque.
OBS: veículos mais antigos podem sofrer corrosão em alguns componentes por causa do etanol.
Outra grande dúvida que os consumidores têm em relação aos dois tipos de combustível é qual deles seria mais nocivo aos componentes do motor ao longo do tempo. Muita gente diz que o etanol é mais corrosivo e que prejudica o motor; outros dizem que isso tudo não passa de mito.
Um artigo publicado no site Best Cars explica que o problema real está no etanol adulterado, no qual os produtos vão formando uma espécie de goma. Esses elementos podem sim ser dissolvidos pela gasolina, e por isso muitos especialistas recomendam de tempos em tempos (a cada 5 mil quilômetros, por exemplo) abastecer com gasolina para “limpar” o motor.
Mas se você abastece num posto de confiança esse problema não acontecerá. Fora esse caso a verdade é que não existe grande diferença para o motor entre um e outro combustível. É difícil sustentar que a gasolina ou o etanol sejam melhores para o motor. O fato é que, como qualquer outro bem material, ele tem uma vida útil e em algum momento se desgastará.
Outra grande questão que envolve uma série quase interminável de discussões é quanto ao impacto ecológico de um e outro combustível. Vamos ver um pouco a origem de cada um para ter uma ideia mais próxima da realidade.
A gasolina provém do petróleo, o qual nada mais é do que “o acúmulo de material orgânico sob condições específicas de pressão e isolamento em camadas do subsolo de bacias sedimentares” na explicação da ANP (Agência Nacional de Petróleo). Essa composição levou milhares de anos para se formar e, consequentemente, é um produto finito, e não existe até hoje uma forma de criá-lo, ou seja, não é renovável. Quando acabar, não será mais possível fazer gasolina.
O Etanol, por sua vez, tem origem na cana de açúcar. Ela é colhida, picada e triturada, depois elevada a altas temperaturas formando o melaço, do qual se destila o etanol. É uma fonte renovável e, de certa forma sustentável, já que sua plantação ajuda na absorção de CO2 e na liberação de oxigênio. Mas nem tudo são flores… Para que possa fornecer uma quantidade razoável de combustível a área destinada a isso precisa ser muito grande – muitas vezes desmatando vegetação nativa para isso – e a terra passa a ser monocultivada, o que prejudica o solo. Além disso, uma das partes do processo é a queima das folhas, o que resulta na emissão de dióxido de carbono.
Um estudo realizado pela USP, contudo, identificou que a combustão da gasolina gera uma quantidade maios de nanopartículas, as quais têm um potencial maior de atravessar as barreiras de nosso sistema respiratório. Esse pode ser o fator que indique definitivamente qual é mais nocivo, mas outros estudos precisariam ser feitos.
Antes de mais nada, os veículos flex não podem receber combustível Diesel, mas apenas gasolina e etanol. O flex não significa que qualquer combustível é aceito. Então, não abasteçam com Diesel só porque seu carro é flex. Isso porque os motores a Diesel possuem tecnologia diferente, que embora trabalhem com combustão, tem uma taxa de compressão maior.
Mas de fato, o combustível Diesel é tentador. Dependendo do modelo é possível rodar até 25 quilômetros com apenas 1 litro. Além disso, eles têm uma vida útil muito mais longa. O grande problema é que a lei brasileira veda o emprego de motor a Diesel em veículos de passeio. Sem comentários…
Para encerrar esse tema, vamos dar algumas dicas que podem ajudar economizar combustível no dia-a-dia. A primeira é utiliza menos o ar condicionado, ou diminuir a intensidade dele, desse forma o motor se dedicará exclusivamente a impulsionar o veículo.
Outra dica importante mas que muita gente descuida é a calibragem dos pneus. Além de gastar os pneus de modo prematuro e às vezes desigual – sem falar na possibilidade muito maior do pneu furar – o veículo também gasta mais combustível, pois o atrito com o solo é maior e mais demorado. A diferença é pouco, mas ao longo do tempo poderia gerar uma boa economia. Calibrar a cada 15 dias é suficiente para prevenir essa situação.
Aqui vem uma dica que os esquentadinhos não vão gostar tanto: acelere menos e freie menos. Além de economizar no combustível estará preservando o sistema de freios, garantindo uma dupla economia.
Por fim, troque de marcha na hora certa. Embora muitos modelos já contem com a transmissão automática, a maior parte da população ainda lida com o câmbio manual. Se as trocas de marcha demoram para acontecer, a rotação aumenta desnecessariamente, provocando um maior consumo de combustível. Não existe uma rotação certa, tente escutar o seu motor e perceber quando o barulho está ficando mais intenso e agudo, será a hora de passar a marcha.