Mobilidade Urbana e Gentrificação: Desafios para a Inclusão Social e Acessibilidade

A gentrificação transforma áreas urbanas degradadas, atraindo novos moradores de maior renda e elevando os custos de vida, o que pode deslocar populações de baixa renda para regiões periféricas. Isso agrava a exclusão social, já que a mobilidade urbana ineficiente aumenta o tempo e custo de deslocamento dessas pessoas. Para evitar isso, é necessário alinhar políticas de transporte e inclusão social.
Publicado por Maria Eduarda Peres em Mobilidade dia 10/10/2024

Ao falar de mobilidade urbana e gentrificação, tocamos em temas que são parte do cotidiano de qualquer grande cidade. O processo de gentrificação, que envolve a revitalização e requalificação de áreas urbanas, muitas vezes leva ao deslocamento de populações de baixa renda, enquanto a mobilidade urbana, por sua vez, determina o quanto e como as pessoas podem se mover pela cidade.

Há uma relação direta entre esses dois fenômenos, onde um planejamento urbano voltado para a inclusão e acessibilidade pode ou não agravar as desigualdades sociais.

O que é Gentrificação?

Gentrificação transforma áreas degradadas em locais atraentes, mas pode deslocar populações de baixa renda.
Gentrificação transforma áreas degradadas em locais atraentes, mas pode deslocar populações de baixa renda.

Gentrificação refere-se ao processo de transformação de áreas urbanas degradadas em locais atrativos para moradores de maior poder aquisitivo, o que resulta em aumento dos preços de imóveis e serviços. Esse processo pode ser visto em várias fases: inicia com a chegada de indivíduos ou pequenos empreendedores que buscam aproveitar baixos preços; depois, o mercado imobiliário se apropria, impulsionando uma transformação significativa no perfil dos moradores; por fim, o local se torna um centro de consumo e lazer de alto padrão, excluindo aqueles que originalmente viviam ali .

Embora traga melhorias na infraestrutura e qualidade de vida para alguns, a gentrificação acarreta no deslocamento forçado de moradores de baixa renda, que não conseguem acompanhar a elevação dos custos de vida.

O é mobilidade urbana e qual seu papel?

Processo que aumenta o valor de imóveis e serviços, tornando áreas urbanas acessíveis apenas para moradores de maior poder aquisitivo.
Processo que aumenta o valor de imóveis e serviços, tornando áreas urbanas acessíveis apenas para moradores de maior poder aquisitivo.

A mobilidade urbana, por definição, refere-se à forma como as pessoas se deslocam em uma cidade, seja através de transporte público, bicicleta, carro ou a pé. O conceito de mobilidade sustentável propõe que o foco seja dado a modais coletivos e ativos, como transporte público elétrico e ciclismo, a fim de reduzir os impactos ambientais e promover uma maior equidade social .

No entanto, a realidade em muitas cidades brasileiras mostra um sistema de mobilidade ainda ineficiente e subfinanciado, que agrava as desigualdades espaciais. Em áreas periféricas, onde vivem pessoas de baixa renda, o transporte público é menos acessível e mais caro, o que limita as opções de deslocamento para trabalho, educação e saúde .

A Relação entre Gentrificação e Mobilidade

Infraestrutura de transporte moderno pode beneficiar novos moradores e excluir os antigos, que se mudam para periferias.
Infraestrutura de transporte moderno pode beneficiar novos moradores e excluir os antigos, que se mudam para periferias.

Mas, qual a relação entre esses dois fenômenos e como podem ser alinhados e resolvidos? Quando áreas urbanas passam por processos de gentrificação, as melhorias nas infraestruturas, como a criação de ciclovias e a instalação de sistemas modernos de transporte, tendem a beneficiar os novos moradores com maior poder aquisitivo. Isso pode acontecer em detrimento das populações originais, que acabam sendo deslocadas para regiões mais distantes .

Esse deslocamento das populações mais pobres para áreas periféricas gera um aumento no tempo e no custo dos deslocamentos diários, comprometendo a qualidade de vida e a inclusão social. Em São Paulo, por exemplo, a expansão do sistema de transporte público para áreas mais afastadas da cidade ainda é insuficiente para suprir a demanda, o que reforça a exclusão social e limita as oportunidades de mobilidade para esses grupos.

Para que a mobilidade urbana seja realmente inclusiva, é necessário que as políticas públicas de transporte estejam alinhadas a estratégias de desenvolvimento urbano que considerem os impactos da gentrificação. Isso inclui, por exemplo, garantir que as melhorias na infraestrutura de transporte não sejam usadas como justificativa para o aumento desproporcional do valor dos imóveis na região.

Deslocamento para áreas periféricas aumenta o tempo e custo dos deslocamentos diários, agravando a exclusão social.
Deslocamento para áreas periféricas aumenta o tempo e custo dos deslocamentos diários, agravando a exclusão social.

As prefeituras e governos estaduais devem atuar em conjunto para implementar planos diretores que priorizem a inclusão social e a acessibilidade. Isso pode ser feito por meio de subsídios ao transporte público para populações de baixa renda, controle de preços de aluguéis em áreas de revitalização e incentivo ao uso de transportes não motorizados em todas as regiões da cidade, e não apenas nas áreas centrais.

Em São Paulo, iniciativas para promover a mobilidade urbana sustentável, como a expansão das ciclovias e a melhoria do transporte público, são passos importantes. Contudo, a cidade ainda enfrenta grandes desafios quanto à acessibilidade universal e à inclusão de todas as classes sociais. As áreas revitalizadas, como a região central, têm atraído investimentos e melhorias, mas também desencadeado processos de gentrificação que limitam o acesso das populações vulneráveis.

Mobilidade urbana envolve como as pessoas se deslocam na cidade, com foco em transporte coletivo e sustentável.
Mobilidade urbana envolve como as pessoas se deslocam na cidade, com foco em transporte coletivo e sustentável.

O Plano Diretor da cidade tenta abordar essas questões ao priorizar o adensamento próximo aos corredores de transporte público, mas a implementação prática dessas políticas esbarra na especulação imobiliária e na falta de regulação adequada para conter a elevação excessiva dos preços.

Fonte: Wikipedia, GestaoUrbana-SP e USP.