O mercado de carros usados no Brasil está a caminho de bater um recorde histórico em 2024, com a expectativa de vender 15,3 milhões de unidades até o final do ano. Nos primeiros seis meses do ano, 7.343.752 carros usados foram comercializados, representando um aumento de 7,2% em comparação com o mesmo período de 2023. Esse crescimento, embora positivo em termos de volume de vendas, levanta questões importantes sobre a segurança e o impacto ambiental dos veículos mais antigos.
À medida que as vendas de carros usados aumentam, a idade média da frota de veículos no Brasil também cresce. Dos carros vendidos até agora em 2024, 2,4 milhões têm mais de 13 anos e 1,7 milhões têm pelo menos nove anos de uso. Esses veículos antigos são menos seguros e mais poluentes, contrariando os esforços globais para promover a mobilidade sustentável. Modelos como Volkswagen Gol, Fiat Uno e Fiat Palio, que lideram as vendas, estão fora de produção há anos e não possuem tecnologias modernas de segurança.
Nos últimos anos, várias leis foram aprovadas para incentivar a produção de veículos mais sustentáveis. Programas como o Rota 2030, concluído em 2023, e o Mover, que começou este ano, oferecem incentivos para montadoras que investem em tecnologias mais limpas, como carros híbridos e elétricos. A Reforma Tributária, atualmente em discussão no Congresso Nacional, planeja um imposto extra para carros elétricos e a combustão devido às emissões ambientais. Além disso, o Proconve L7, em vigor desde 2023, estabelece limites de emissões para veículos novos, forçando as montadoras a atualizar seus motores ou retirar modelos antigos de linha.
Apesar desses esforços, a busca por carros usados continua a crescer, principalmente devido ao custo mais baixo desses veículos. Muitos brasileiros não têm recursos para comprar carros novos e optam por modelos mais antigos, que são mais acessíveis. Isso cria um paradoxo, onde os esforços para tornar os carros novos mais seguros e menos poluentes acabam aumentando a demanda por veículos antigos, que são justamente o oposto.
Especialista em Energia a Combustão da SAE aponta que os carros mais antigos tendem a poluir mais devido ao desgaste e à falta de tecnologias modernas de controle de emissões. Ele sugere que a criação de um programa de renovação de frota poderia ajudar a mitigar esses problemas, incentivando os proprietários a substituir seus veículos antigos por modelos mais novos e eficientes.
Além disso, algumas políticas públicas incentivam a manutenção de carros antigos. Em muitos estados brasileiros, veículos com mais de 15 anos estão isentos do pagamento de IPVA, o que alivia a carga tributária sobre os proprietários, mas perpetua a circulação de carros menos seguros e mais poluentes. Em contraste, programas como o “Cash for Clunkers” nos Estados Unidos, implementado em 2009, ofereciam incentivos financeiros para a troca de veículos antigos por modelos novos e mais eficientes.
Especialista automotivo explica que o aumento nas vendas de carros usados também está relacionado ao retorno das atividades presenciais pós-pandemia. Com a maioria das empresas retomando o trabalho presencial, há uma maior demanda por transporte pessoal. Além disso, a disponibilidade de crédito no mercado contribui para esse crescimento. A expectativa de redução da taxa Selic no ano passado fez com que muitos consumidores aguardassem uma queda nos juros para comprar um carro. Com a estabilização da taxa e sinais de que ela pode voltar a subir, muitos decidiram realizar a compra antes que os custos aumentassem ainda mais.
Fonte: UOL.