O que está por trás do boom nas vendas de carros usados este ano?

O mercado de carros usados no Brasil está em alta, com expectativa de 15,3 milhões de unidades vendidas em 2024. No primeiro semestre, 7,3 milhões de veículos foram comercializados, um aumento de 7,2% em relação a 2023. No entanto, o crescimento desse setor traz preocupações sobre segurança e impacto ambiental.
Publicado em Usados dia 31/07/2024 por Alan Corrêa

O mercado de carros usados no Brasil está a caminho de bater um recorde histórico em 2024, com a expectativa de vender 15,3 milhões de unidades até o final do ano. Nos primeiros seis meses do ano, 7.343.752 carros usados foram comercializados, representando um aumento de 7,2% em comparação com o mesmo período de 2023. Esse crescimento, embora positivo em termos de volume de vendas, levanta questões importantes sobre a segurança e o impacto ambiental dos veículos mais antigos.

À medida que as vendas de carros usados aumentam, a idade média da frota de veículos no Brasil também cresce. Dos carros vendidos até agora em 2024, 2,4 milhões têm mais de 13 anos e 1,7 milhões têm pelo menos nove anos de uso. Esses veículos antigos são menos seguros e mais poluentes, contrariando os esforços globais para promover a mobilidade sustentável. Modelos como Volkswagen Gol, Fiat Uno e Fiat Palio, que lideram as vendas, estão fora de produção há anos e não possuem tecnologias modernas de segurança.

Nos últimos anos, várias leis foram aprovadas para incentivar a produção de veículos mais sustentáveis. Programas como o Rota 2030, concluído em 2023, e o Mover, que começou este ano, oferecem incentivos para montadoras que investem em tecnologias mais limpas, como carros híbridos e elétricos. A Reforma Tributária, atualmente em discussão no Congresso Nacional, planeja um imposto extra para carros elétricos e a combustão devido às emissões ambientais. Além disso, o Proconve L7, em vigor desde 2023, estabelece limites de emissões para veículos novos, forçando as montadoras a atualizar seus motores ou retirar modelos antigos de linha.

Apesar desses esforços, a busca por carros usados continua a crescer, principalmente devido ao custo mais baixo desses veículos. Muitos brasileiros não têm recursos para comprar carros novos e optam por modelos mais antigos, que são mais acessíveis. Isso cria um paradoxo, onde os esforços para tornar os carros novos mais seguros e menos poluentes acabam aumentando a demanda por veículos antigos, que são justamente o oposto.

Especialista em Energia a Combustão da SAE aponta que os carros mais antigos tendem a poluir mais devido ao desgaste e à falta de tecnologias modernas de controle de emissões. Ele sugere que a criação de um programa de renovação de frota poderia ajudar a mitigar esses problemas, incentivando os proprietários a substituir seus veículos antigos por modelos mais novos e eficientes.

Além disso, algumas políticas públicas incentivam a manutenção de carros antigos. Em muitos estados brasileiros, veículos com mais de 15 anos estão isentos do pagamento de IPVA, o que alivia a carga tributária sobre os proprietários, mas perpetua a circulação de carros menos seguros e mais poluentes. Em contraste, programas como o “Cash for Clunkers” nos Estados Unidos, implementado em 2009, ofereciam incentivos financeiros para a troca de veículos antigos por modelos novos e mais eficientes.

Especialista automotivo explica que o aumento nas vendas de carros usados também está relacionado ao retorno das atividades presenciais pós-pandemia. Com a maioria das empresas retomando o trabalho presencial, há uma maior demanda por transporte pessoal. Além disso, a disponibilidade de crédito no mercado contribui para esse crescimento. A expectativa de redução da taxa Selic no ano passado fez com que muitos consumidores aguardassem uma queda nos juros para comprar um carro. Com a estabilização da taxa e sinais de que ela pode voltar a subir, muitos decidiram realizar a compra antes que os custos aumentassem ainda mais.

Fonte: UOL.