Opinião: Acordo entre Mercosul e UE tem tudo para favorecer o mercado automotivo brasileiro, mas pode dar errado

O acordo Mercosul-UE é uma oportunidade histórica para o Brasil modernizar sua indústria automotiva e acessar mercados globais. Porém, sem inovação urgente, corremos o risco de sermos esmagados pela concorrência europeia. É hora de agir: ou nos adaptamos, ou assistimos à obsolescência da indústria nacional.
Publicado por Alan Corrêa em Opinião dia 7/12/2024

O acordo entre Mercosul e União Europeia é uma vitória histórica para as relações comerciais internacionais, especialmente para o Brasil. No entanto, há um enorme “porém”: ele tem tudo para revolucionar o mercado automotivo brasileiro, mas também pode ser um desastre se não formos rápidos e inteligentes o suficiente para nos adaptar. Este é um momento de grandes oportunidades, mas também de grandes riscos.

A promessa de redução de impostos de importação de veículos em até 35% ao longo de 10 anos é animadora para os consumidores, que finalmente poderão acessar carros europeus de alta tecnologia e qualidade a preços mais acessíveis. Mas e a indústria nacional? Ela está preparada para enfrentar essa competição direta e feroz? A resposta, até agora, parece ser um grande ponto de interrogação.

Durante anos, as montadoras brasileiras operaram em uma bolha de proteção, beneficiando-se de altas tarifas que limitavam a concorrência externa. Essa bolha está prestes a estourar. O mercado será forçado a mudar, e mudar rapidamente. Sem investimentos massivos em tecnologia, eficiência e sustentabilidade, muitas empresas correm o risco de desaparecer diante da entrada massiva de carros europeus.

O acordo Mercosul-UE desafia o Brasil a inovar na indústria automotiva. É uma chance de crescimento global, mas sem adaptação, corremos o risco de sucumbir à concorrência europeia - Imagem gerada por IA.
O acordo Mercosul-UE desafia o Brasil a inovar na indústria automotiva. É uma chance de crescimento global, mas sem adaptação, corremos o risco de sucumbir à concorrência europeia – Imagem gerada por IA.

Não podemos ignorar o fato de que o acordo também abre portas importantes. A possibilidade de exportar peças e componentes para o mercado europeu é um benefício claro e inegável. O Brasil tem o potencial para se posicionar como um fornecedor de relevância global, mas isso só acontecerá se as empresas brasileiras se prepararem para competir em qualidade, inovação e custo.

A transição escalonada prevista no acordo é um alívio momentâneo, mas não podemos nos dar ao luxo de esperar. Dez anos passam rápido, e a concorrência global não perdoa. É essencial que a indústria automotiva brasileira comece a agir agora, desenvolvendo tecnologias que atendam às demandas globais, como veículos elétricos e híbridos, além de melhorar drasticamente a eficiência energética.

Se as montadoras nacionais não se modernizarem, o que parecia ser uma oportunidade histórica pode se transformar em uma armadilha. Carros europeus mais baratos e melhores irão dominar o mercado, e as marcas nacionais, incapazes de competir, perderão relevância. Essa possibilidade é real, e as empresas precisam tratar isso com a seriedade que a situação exige.

O governo brasileiro também tem um papel crucial nesse cenário. É fundamental oferecer incentivos fiscais e financeiros para que a indústria consiga investir em inovação e modernização. Sem apoio governamental, será muito difícil competir com montadoras europeias que já estão anos-luz à frente em tecnologia e eficiência.

Por outro lado, há algo que nos favorece: o Brasil tem uma base de consumidores exigentes e um mercado com enorme potencial. Se nossas montadoras conseguirem oferecer carros mais modernos, acessíveis e sustentáveis, terão chances reais de não só sobreviver, mas prosperar nesse novo contexto. O problema é que a indústria precisa enxergar isso antes que seja tarde demais.

Como consumidores, também temos um papel importante. Precisamos exigir produtos de qualidade, com tecnologia de ponta e preços justos. A abertura do mercado é uma oportunidade para elevarmos nosso padrão de exigência e pressionarmos a indústria nacional a entregar mais.

Enquanto isso, o Mercosul e a União Europeia têm suas próprias estratégias. Para a UE, o objetivo é aumentar sua presença no mercado sul-americano, enquanto o Mercosul foca principalmente na exportação de produtos agrícolas. Essa dinâmica de “carros contra carne” é um equilíbrio delicado, e o Brasil precisa garantir que não sairá perdendo na troca.

O acordo Mercosul-UE é uma faca de dois gumes. Pode ser o início de uma nova era de modernização e crescimento para o mercado automotivo brasileiro, mas também pode ser o golpe final para empresas que insistirem em práticas ultrapassadas. O tempo dirá qual será o desfecho, mas uma coisa é certa: não há mais espaço para acomodação.

A indústria automotiva brasileira está diante de um teste de sobrevivência. Ou abraçamos a mudança e inovamos, ou ficaremos para trás, observando o mercado ser dominado por marcas estrangeiras. A escolha está em nossas mãos, mas o tempo está contra nós.

Fonte: AgênciaBrasil, X, CNN, G1 e UOL.