A ação em Londres que envolveu a destruição de um carro da Tesla chamou atenção ao unir protesto político, crítica social e um modelo desativado da montadora norte-americana. Organizado por um grupo que se autodenomina Everyone Hates Elon, o evento ocorreu com a proposta de se transformar em uma “instalação de arte participativa”, com livre participação do público. A escolha do alvo não foi aleatória: um Tesla Model S de 2014, fora de circulação e destinado ao descarte, serviu como símbolo.
Pontos Principais:
O coletivo responsável pela ação afirma que a iniciativa visa permitir que a população expresse frustrações relacionadas ao bilionário Elon Musk, CEO da Tesla e atualmente vinculado ao governo de Donald Trump. O grupo, que não detalhou a identidade da pessoa que doou o carro, reforça que o ato teve caráter pacífico e legal, com remoção prévia da bateria do veículo para evitar riscos.
A performance contou com a interação do público, que pôde utilizar marretas e tacos de beisebol para danificar o automóvel. A proposta foi apresentar uma crítica simbólica ao acúmulo de riqueza e à influência de grandes empresários em decisões políticas e sociais. A destruição do carro foi acompanhada de depoimentos de participantes, que destacaram insatisfações ligadas a posicionamentos políticos de Musk.
Elon Musk atua como líder do Departamento de Eficiência Governamental, órgão criado pela gestão de Donald Trump com o objetivo de cortar gastos públicos e reduzir a máquina estatal. Sua participação no governo, no entanto, é limitada por lei a 130 dias anuais, por se tratar de um cargo especial. Isso significa que ele deverá se afastar da função até meados de junho, conforme prevê a legislação.
Informações publicadas pelo site Politico sugeriram que Trump teria comunicado a aliados que Musk deixaria o posto em breve, o que provocou reação imediata no mercado financeiro. Após a circulação da notícia, o valor das ações da Tesla voltou a subir, ainda que a Casa Branca tenha negado qualquer afastamento. A instabilidade em torno da figura de Musk tem gerado especulações sobre o futuro da empresa e sua liderança.
As críticas ao envolvimento político de Musk se somam a controvérsias anteriores, como seu posicionamento sobre pautas sociais e ambientais. A recente ação artística em Londres também refletiu esse contexto, reunindo vozes insatisfeitas com a centralização de poder e capital nas mãos de figuras públicas com forte influência institucional.
A Tesla enfrenta uma fase de instabilidade no mercado financeiro. Desde 20 de janeiro, a empresa perdeu cerca de US$ 557 bilhões em valor de mercado, o equivalente a uma retração de 40,84% nas ações, segundo levantamento da consultoria Elos Ayta. A queda expressiva reflete uma combinação de fatores políticos e competitivos, incluindo a atuação crescente da chinesa BYD no setor de veículos elétricos.
Nos primeiros três meses de 2025, a Tesla entregou aproximadamente 337 mil unidades, o que representa uma queda de 13% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse volume de vendas é o mais baixo registrado pela montadora nos últimos três anos, segundo especialistas do setor.
Analistas apontam que o comportamento público de Musk, aliado à competição mais acirrada no segmento de elétricos, contribuiu para a desaceleração. O investidor Ross Gerber, que já apoiou Musk, chegou a afirmar que a Tesla “está em colapso e pode não se recuperar”, sugerindo inclusive a saída do executivo do cargo de CEO.
Após o ato simbólico em Londres, o coletivo organizador anunciou que o carro destruído será leiloado, com arrecadação destinada a instituições que distribuem alimentos. A medida pretende ampliar o alcance social da iniciativa, que já despertou atenção em diversos veículos internacionais.
Durante a ação, estudantes, artistas e ativistas se manifestaram contra o que chamam de “concentração abusiva de poder” por parte de Musk. Uma das participantes, identificada como Romilly Cotta, relatou sua motivação para participar, mencionando posicionamentos do empresário sobre minorias e conflitos internacionais.
O músico Colin Reineberg, que também esteve presente, declarou que o sentimento predominante entre os participantes era de rejeição à presença dominante dos bilionários na condução de pautas sociais. Para ele, o protesto proporcionou um momento de catarse coletiva diante de um cenário considerado injusto por parte dos manifestantes.
O caso evidencia um ponto de inflexão na relação entre grandes empresas de tecnologia e seus públicos. A atuação empresarial de Musk, associada diretamente à sua imagem pública e posicionamento político, cria um ambiente de tensão constante. A dualidade entre inovação tecnológica e centralização de poder tem despertado críticas cada vez mais frequentes.
O protesto em Londres é parte de um movimento global que questiona os limites do ativismo corporativo. A própria decisão de utilizar um carro destinado ao descarte evita ilegalidades, mas provoca reflexões sobre a eficácia simbólica de atos públicos como forma de crítica à elite econômica.
Especialistas avaliam que iniciativas como essa evidenciam a dificuldade das grandes marcas em dissociar sua atuação econômica das figuras que as lideram. A personalização do poder empresarial pode levar à instabilidade, tanto nos mercados quanto na opinião pública.
Fonte: Instagram, Gazetadopovo e G1.