A manutenção dos pneus de motocicleta costuma ser vista como algo simples, mas segue entre os pontos mais negligenciados da rotina dos pilotos. Pequenos improvisos ganham espaço nas oficinas e nas conversas do dia a dia, muitas vezes com a ideia de economizar ou evitar paradas longas. O problema é que boa parte dessas soluções caseiras altera o comportamento da moto de forma direta e coloca o piloto em risco.
Quando práticas inadequadas se tornam comuns, os impactos vão além do desgaste acelerado. Erros aparentemente inofensivos interferem no equilíbrio da moto, reduzem a precisão das frenagens e dificultam manobras que exigem resposta imediata. Pneus são parte essencial da ciclística e qualquer alteração feita sem critério técnico modifica como a moto interage com o solo.
Especialistas alertam que um conjunto de equívocos recorrentes está por trás dos acidentes mais evitáveis. Desde o uso de pneus que não pertencem ao veículo até mudanças de medida feitas sem orientação, o resultado é sempre o mesmo: perda de previsibilidade e redução de segurança. Entender por que isso acontece é fundamental para quem depende da moto diariamente.

O hábito de instalar pneus de carro em motocicletas ainda circula em algumas regiões do país. A prática ignora diferenças básicas de construção. Pneus automotivos foram pensados para veículos que não alteram o ângulo de inclinação nas curvas, o que reduz drasticamente a aderência lateral quando usados em motos. O resultado aparece no primeiro desvio mais rápido, quando a moto responde de maneira instável e pouco natural.
Outro improviso comum é o uso de espumas, como macarrões de piscina, dentro do pneu. A ideia de manter a rodagem em caso de furo pode soar prática, mas o material não resiste à temperatura nem à deformação contínua. Fragmentos se soltam, atrapalham o balanceamento e podem provocar falhas no assentamento do pneu na roda, gerando vibrações e perda de controle.
Esses improvisos não afetam apenas o pneu, mas todo o conjunto da moto. Alterações na distribuição de peso, mudança na área de contato e variações irregulares na rotação das rodas interferem na suspensão, na frenagem e até na leitura do velocímetro. Em motos menores, os efeitos são ainda mais perceptíveis.
Para especialistas, o fator mais crítico é que essas soluções criam sensação falsa de segurança. O piloto acredita que está prevenindo um problema, quando na verdade está adicionando novas falhas ao sistema. A longo prazo, o custo é sempre mais alto do que uma manutenção correta.
Modificar a medida original do pneu é outro erro frequente. A troca por um modelo mais largo muda o centro de gravidade, altera o esforço necessário para inclinar a moto e modifica como o conjunto absorve irregularidades do piso. Em casos extremos, o pneu pode encostar no paralama ou no garfo, comprometendo a rodagem.
Um pneu mais estreito também gera problemas. A área de contato diminui e reduz a tração, especialmente em dias de chuva. A moto perde firmeza nas curvas e exige correções constantes, cansando o piloto e criando margem maior para erros.
Essas mudanças se somam a outro ponto técnico: toda moto é testada com medidas específicas para manter equilíbrio entre conforto, estabilidade e tempo de resposta. Alterar esses parâmetros exige conhecimento profundo de geometria de suspensão, algo que raramente é considerado em modificações caseiras.
Além de aumentar o risco, qualquer alteração fora do padrão compromete também a durabilidade geral do conjunto.

Entre todos os cuidados, manter a calibragem correta é o mais básico e, ainda assim, um dos mais ignorados. Pressões abaixo do recomendado deixam o pneu flácido, elevam o consumo de combustível e afetam a dirigibilidade. A moto fica lenta na resposta e o risco de superaquecimento aumenta, abrindo espaço para falhas no composto.
Pressões acima do ideal reduzem a aderência. A banda de rodagem perde contato com o solo em partes importantes da curva e a frenagem se torna menos eficiente. Em trechos de piso irregular, a moto começa a quicar, tornando o controle mais difícil.
Outro ponto essencial é que a calibragem deve ser medida sempre com o pneu frio. A pressão aumenta depois de rodar, o que mascara o valor real e leva o piloto a crer que está tudo correto. Em viagens longas, a recomendação é calibrar também durante paradas estratégicas, principalmente quando há variação grande de temperatura.
Por fim, calibragem correta preserva a vida útil do pneu e mantém o comportamento da moto previsível, algo determinante para quem enfrenta trânsito pesado ou rodovias com tráfego denso.
O uso de solventes ou desengraxantes agressivos provoca ressecamento e acelera o envelhecimento do composto de borracha. A limpeza correta deve ser feita apenas com água e sabão neutro. Esse cuidado simples evita microfissuras, preserva a elasticidade do material e mantém a aderência em condições críticas.
Produtos de brilho, o chamado pretinho, são ainda mais perigosos quando aplicados em motos. Na banda de rodagem, deixam a superfície escorregadia e aumentam drasticamente o risco de queda. Mesmo aplicados nas laterais, exigem cuidado absoluto para não contaminar a área que toca o solo.
Além do risco imediato, esses produtos criam camada artificial sobre a borracha e alteram temporariamente suas propriedades. Em frenagens ou curvas mais agressivas, essa perda de contato pode ser decisiva. Por isso, especialistas recomendam evitar qualquer tratamento que não esteja previsto pelas fabricantes.
A rotina de limpeza adequada contribui diretamente para a durabilidade do pneu e mantém o comportamento da moto dentro do esperado, especialmente em cenários de baixa aderência.
Fonte: Pirelli.