Bacia de Pelotas: descoberta de Petróleo na África Pode Indicar Novo Potencial Energético no Brasil

Há milhões de anos, Brasil e Namíbia eram vizinhos no supercontinente Pangeia. Hoje, a descoberta de petróleo na costa africana reacende o interesse pela Bacia de Pelotas, no sul do Brasil. Estudos e explorações indicam que a região pode se tornar uma nova fronteira energética, fortalecendo a segurança do país.
Publicado por Alan Corrêa em Negócios dia 12/01/2025

A recente descoberta de grandes reservas de petróleo na costa da Namíbia, na África, trouxe atenção para a Bacia de Pelotas, localizada no sul do Brasil. Estudos apontam que ambas as regiões compartilham características geológicas semelhantes devido à formação do supercontinente Pangeia há cerca de 225 milhões de anos. Durante esse período, os continentes que hoje formam a América do Sul e a África estavam conectados, compartilhando o mesmo ambiente geológico.

Pontos Principais:

  • Descoberta de petróleo na Namíbia destaca potencial da Bacia de Pelotas.
  • Formações geológicas semelhantes devido à antiga conexão continental.
  • Empresas como Petrobras e Chevron iniciam exploração na região.
  • Possibilidade de novas reservas para o Brasil nos próximos anos.

O processo de separação dos continentes, iniciado há aproximadamente 180 milhões de anos, deu origem ao Oceano Atlântico e deixou camadas sedimentares semelhantes nos dois lados do oceano. Na Namíbia, essas camadas, datadas de 125 a 110 milhões de anos, têm se mostrado reservatórios promissores para petróleo. Segundo o professor Juliano Kuchle, do Departamento de Paleontologia e Estratigrafia da UFRGS, essas formações também estão presentes na Bacia de Pelotas, indicando um potencial significativo de exploração.

A descoberta na Namíbia, com estimativas superiores a 10 bilhões de barris em campos como Graff, Rona, Jonker, Venus e Saturn Superfan, reacendeu o interesse pela Bacia de Pelotas. Esse interesse representa uma possibilidade de o Brasil encontrar um novo polo produtor de petróleo para substituir a queda projetada na produção dos campos do pré-sal a partir de 2030.

Exploração da Bacia de Pelotas

Mapa da Bacia de Pelotas — Foto: Reprodução/TV Globo
Mapa da Bacia de Pelotas — Foto: Reprodução/TV Globo

A Bacia de Pelotas abrange o litoral do extremo sul do Brasil, incluindo o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, estendendo-se por toda a costa gaúcha e parte do litoral catarinense. Ao norte, a bacia faz limite com a Bacia de Santos, enquanto ao sul conecta-se à Bacia de Punta del Este, no Uruguai. Os blocos exploratórios estão localizados entre 100 e 300 quilômetros da costa, com profundidades que podem alcançar sete mil metros de mar e rocha.

Até o momento, 19 perfurações foram realizadas na região, sendo a última em 2001. Nenhuma identificou petróleo comercialmente viável. Estudos recentes indicam que os modelos de exploração anteriores buscavam características semelhantes às encontradas nas bacias de Campos e Santos, o que não corresponde à geologia local. Desde 2008, novas pesquisas começaram a mapear a região com mais precisão.

Atualmente, 44 blocos estão sob exploração por grandes empresas, como Petrobras, Shell, CNOOC e Chevron. Essas companhias estão conduzindo análises sísmicas, que utilizam ondas sonoras para criar imagens detalhadas do subsolo oceânico. Esse método é fundamental para identificar formações geológicas promissoras, mas a confirmação definitiva só ocorrerá com a perfuração dos blocos.

Etapas e Projeções para a Produção

De acordo com a ANP, a exploração da Bacia de Pelotas está em fase inicial. A perfuração exploratória deve ocorrer entre 2026 e 2028, caso os estudos sísmicos indiquem áreas promissoras. O cronograma depende também da aprovação de licenças ambientais, o que pode levar de um a dois anos.

Após a confirmação de reservas comercialmente viáveis, o início da produção é projetado para 2030. A principal tecnologia considerada para a região é o uso de navios FPSO (Floating Production Storage and Offloading), que são unidades flutuantes capazes de operar diversos poços simultaneamente. Esses navios podem armazenar petróleo e transferi-lo para embarcações menores ou oleodutos.

A fase inicial inclui análise econômica e de viabilidade. Equipes multidisciplinares avaliam custos de perfuração, retorno financeiro e o impacto ambiental das operações. Apesar dos altos custos, a exploração de petróleo pode gerar retornos significativos para a economia local e nacional.

Impactos Econômicos

O potencial econômico da Bacia de Pelotas está relacionado à geração de royalties, movimentação do comércio e criação de empregos em diversas áreas. A exploração pode beneficiar municípios da costa do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, além de fortalecer a segurança energética do Brasil. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que, sem novos investimentos em exploração, o Brasil pode perder até R$ 3,7 trilhões entre 2032 e 2055 em arrecadação de impostos e royalties.

O professor Juliano Kuchle destaca que a descoberta e exploração de petróleo têm impacto direto em setores como tecnologia, comércio e educação, oferecendo oportunidades desde níveis básicos até avançados de qualificação profissional. Além disso, a produção pode reduzir a dependência brasileira de importação de petróleo, controlando o custo da energia no país.

Preocupações Ambientais

A exploração de petróleo na Bacia de Pelotas enfrenta desafios ambientais significativos. Especialistas apontam a necessidade de minimizar riscos, como vazamentos, e de garantir a fiscalização rigorosa por parte de órgãos reguladores, como o Ibama. A legislação ambiental brasileira estabelece normas detalhadas para controle de atividades relacionadas à exploração de petróleo.

Um exemplo recente de preocupação foi o indeferimento pelo Ibama de um pedido de exploração na Margem Equatorial, onde o tempo de resposta a acidentes foi considerado inadequado. Para a Bacia de Pelotas, especialistas sugerem que empresas implementem políticas de gestão ambiental rigorosas e tecnologia de ponta para prevenir impactos.

No cenário global de transição energética, o Brasil se encontra em um ponto de equilíbrio, ainda dependente do petróleo, mas investindo em fontes renováveis, como energia hidrelétrica, solar e eólica. Entretanto, a substituição completa do petróleo exige planejamento e investimentos contínuos.

Reflexos na Segurança Energética

Com a produção do pré-sal atingindo o ápice, o Brasil busca novas fronteiras energéticas para evitar a dependência de importação de petróleo. A Bacia de Pelotas se apresenta como uma alternativa estratégica, especialmente considerando a projeção de declínio da produção nas bacias atualmente ativas.

Segundo o diretor da ANP, Rodolfo Saboia, a transição energética só será efetiva com a redução da demanda global por petróleo. Até lá, o país deve aproveitar as riquezas provenientes da exploração de hidrocarbonetos. Ele destaca que os benefícios vão além da produção de energia, incluindo geração de empregos e fortalecimento da economia local.

Fonte: G1, Terra, Oglobo, Gov.Br e InfoMoney.