Rodoanel Norte retira 18 mil caminhões por dia da capital paulista ao entrar em operação, com impacto direto na logística urbana e potencial redução de até 8% nas emissões de gases de efeito estufa em São Paulo.
Às sete da manhã, quando o trânsito começa a travar nas marginais e o ronco dos caminhões se mistura ao barulho dos ônibus, a lógica do tráfego urbano de São Paulo cobra seu preço. É justamente nesse ponto que o trecho Norte do Rodoanel Mário Covas passa a fazer sentido prático. A promessa é direta e mensurável, retirar 18 mil caminhões por dia das ruas da capital e, com isso, abrir espaço para um fluxo menos caótico e menos poluente.
A estimativa oficial segundo a Agenciasp, aponta uma redução entre 6% e 8% nas emissões de gases de efeito estufa somente na cidade de São Paulo quando o trecho estiver completo. Não é uma conta abstrata. Caminhões parados em congestionamentos queimam combustível de forma ineficiente, elevam o consumo e concentram emissões justamente onde vivem mais pessoas. Ao deslocar esse tráfego pesado para fora do tecido urbano, o impacto ambiental deixa de ser discurso e vira consequência direta.
O primeiro segmento já entregue liga a Rodovia Presidente Dutra à Fernão Dias em 24 quilômetros de pistas duplas, com três faixas por sentido, viadutos, acessos e quatro túneis que somam cerca de 2 quilômetros. A expectativa é de circulação diária de 40 mil veículos, mais da metade formada por caminhões e carretas que hoje disputam espaço nas marginais Tietê e Pinheiros.
Quando totalmente finalizado, o trecho Norte fecha uma lacuna histórica ao conectar-se aos trechos Oeste, Sul e Leste do Rodoanel. Na prática, isso significa criar um anel viário funcional, capaz de redistribuir o tráfego logístico que cruza o estado sem precisar atravessar áreas densamente povoadas. A obra ganha ainda mais peso ao facilitar o acesso ao Porto de Santos, ponto-chave para o escoamento do PIB nacional voltado à exportação.
Há também uma camada menos visível, mas decisiva, no desenho do projeto. O traçado atravessa áreas sensíveis da Serra da Cantareira, com presença de mata atlântica e zonas de preservação. Por isso, desde a retomada das obras em abril de 2024, foram adotados programas de monitoramento de fauna, implantação de passagens subterrâneas para animais silvestres e ações de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas. São medidas que não eliminam o impacto, mas reduzem danos e tornam a intervenção menos agressiva ao ambiente.
O trecho Norte completo terá 44 quilômetros, passando por São Paulo, Guarulhos e Arujá. Após seis anos de paralisação, o cronograma voltou a andar com antecedência de seis meses e já alcançou 59% de execução. A previsão é de operação integral no segundo semestre de 2026, com investimento total de R$ 3,4 bilhões, sendo R$ 1,35 bilhão do Estado e cerca de R$ 2 bilhões da concessionária.
Inserido no programa SP pra Toda Obra, que prevê R$ 30,5 bilhões em investimentos viários, o Rodoanel Norte deixa de ser apenas mais um canteiro de obras para se tornar uma peça estrutural da mobilidade paulista. Menos caminhões nas ruas centrais, menos tempo perdido no trânsito e menos poluição concentrada onde a cidade já respira com dificuldade.