A Ram, tradicionalmente associada a picapes robustas, prepara uma guinada importante em sua história. Pela primeira vez, a marca do grupo Stellantis desenvolverá um SUV próprio, ampliando sua atuação para além das caçambas. O projeto foi confirmado pelo CEO Antonio Filosa em uma reunião com analistas financeiros em Wall Street, sinalizando uma estratégia de crescimento que une desempenho, eletrificação e herança americana.
Embora a Ram sempre tenha orbitado o universo das picapes — da clássica 1500 às versões pesadas 2500 e 3500 —, o novo SUV simboliza um reposicionamento. Segundo informações da Automotive News, o modelo será produzido em Michigan, na mesma planta do Jeep Grand Wagoneer, o que indica uma base técnica e estrutural compartilhada. A proposta, no entanto, é mais do que replicar um Jeep com outro emblema. A Ram busca criar um SUV de presença marcante, fiel à sua identidade de força e utilitarismo, mas adaptado à nova era de eficiência energética.

O modelo deve estrear nos Estados Unidos no mesmo período em que a marca lança uma picape média, possivelmente chamada Dakota. Isso reforça o movimento de expansão da Stellantis na América do Norte e do Sul, aproveitando sinergias industriais e ampliando a competitividade frente à Ford e à General Motors. O investimento de US$ 13 bilhões direcionado à operação americana da Stellantis será essencial para sustentar essa nova fase, que combina motores a combustão com tecnologias eletrificadas.
Uma das versões do SUV utilizará o sistema EREV — sigla para elétrico com extensor de autonomia —, semelhante ao adotado pela chinesa Leapmotor, parceira tecnológica do grupo. Nesse tipo de configuração, o motor a combustão não move o veículo diretamente, mas atua como gerador para recarregar as baterias. Trata-se de uma solução intermediária entre o híbrido tradicional e o elétrico puro, pensada para mercados ainda em transição energética.
Além do novo SUV, Filosa confirmou o retorno da sigla SRT (Street & Racing Technology), divisão esportiva que marcou gerações de entusiastas com modelos icônicos como o Dodge Viper e o Challenger Hellcat. Agora, a Ram deverá incorporar versões SRT em parte de sua linha, começando por modelos derivados da 1500. Uma das apostas é a reedição da Ram 1500 TRX, equipada com o lendário motor Hemi V8, símbolo máximo da força bruta norte-americana.
O segundo modelo SRT, ainda envolto em mistério, poderá seguir um caminho mais urbano, com visual arrojado e comportamento esportivo ajustado para o asfalto. O conceito Ram 1500 The Dude, apresentado no SEMA Show, é um exemplo do que pode vir: pintura verde vibrante, rodas de 22 polegadas e postura atlética, sem perder a identidade da marca. Caso siga essa direção, a Ram conseguirá equilibrar potência, design e usabilidade cotidiana — algo essencial em um mercado cada vez mais diversificado e exigente.
Essa movimentação da Ram revela uma marca que entende o momento de transformação da indústria automotiva. Ao mesmo tempo em que mantém viva sua tradição mecânica, a empresa aposta em novas formas de propulsão e em segmentos que antes pareciam distantes de seu DNA. Com o SUV e a linha SRT renovada, a Ram reforça o vínculo emocional com seus clientes e se reposiciona como uma força global dentro da Stellantis, combinando o passado de torque e metal com o futuro da eletrificação inteligente.
No fim, o primeiro SUV da Ram representa mais do que um novo produto: é o símbolo de uma transição. A marca que sempre personificou o trabalho pesado e a resistência agora busca também o conforto, o desempenho e a eficiência que o público moderno exige. Se o equilíbrio entre potência e inovação se concretizar, a Ram poderá conquistar não apenas quem precisa de uma picape, mas também quem quer um SUV com alma de muscle car.
Fonte: QuatroRodas.