Renault negocia aliança com chinesa Chery para fabricar veículos na América Latina — simbolo de virada automotiva

A Renault estuda uma joint venture com a Chery para produzir carros na América do Sul, com operações na Argentina, Colômbia e possível uso de plantas da Renault no Brasil. A parceria não afetaria sua aliança com a Caoa no Brasil, e pode acelerar sua ofensiva na mobilidade elétrica e híbrida.
Publicado por em Negócios e Renault dia

Uma nova guinada estratégica pode estar a caminho no setor automotivo latino-americano, e a Renault parece estar no centro desse movimento. Segundo informações recentes, a montadora francesa negocia uma aliança com a chinesa Chery para produzir veículos na América do Sul — um passo que sinaliza ambições de consolidação regional, e que pode alterar os equilíbrios competitivos do setor.

Pontos Principais:

  • A Renault estuda parceria com a Chery para produzir veículos na América do Sul sob marca Renault.
  • Plantas na Argentina e Colômbia estão entre as possíveis operadoras do projeto.
  • A aliança proposta não deve interferir no acordo atual da Chery com a Caoa no Brasil.
  • Busca-se recuperar competitividade e acelerar presença regional diante de perdas recentes.

As negociações ainda caminham de forma preliminar, sem definição certa de assinatura ou cronograma. A proposta em discussão envolve a produção de modelos da Chery sob a bandeira Renault, com a francesa controlando a operação e eventualmente cedendo suas fábricas em países vizinhos para instalação de linhas de montagem. Em particular, as plantas da Renault em Córdoba (Argentina) e Envigado (Colômbia) são citadas como possíveis locais para implantação dessas operações. Na Argentina, especula-se foco em picapes híbridas plug-in; na Colômbia, modelos a combustão estariam na mira.

Renault articula produção latino-americana com carros Chery sob marca francesa, explorando fábricas na Colômbia e Argentina e mirando vantagem competitiva regional
Renault articula produção latino-americana com carros Chery sob marca francesa, explorando fábricas na Colômbia e Argentina e mirando vantagem competitiva regional

Se avançar, esse tipo de arranjo colocaria a Renault em uma posição estratégica: integrar em seu portfólio veículos de origem chinesa, mas com controle e marca francesa, e com produção regional. Esse casamento operacional permitiria economias de escala, otimização logística e tarifas menores nas exportações entre países da América Latina.

Um ponto sensível nessa trama é o relacionamento com a Caoa, que desde 2017 tem parceria com a Chery no Brasil para fabricação e comercialização de modelos chineses. Segundo as informações, o acordo com a Chery para atuação regional não deve interferir nessa aliança brasileira existente. Ou seja: o Brasil continuaria com a cooperação direta entre Chery e Caoa, enquanto a Renault busca montar seu braço latino-americano com similar espinha dorsal. Além disso, a Caoa estaria preparando uma cooperação paralela com outra chinesa, a Changan, em modelo semelhante.

Para a Renault, o momento é crítico. Recentemente, reportou prejuízo de cerca de 11 bilhões de dólares com sua participação na Nissan, o que reforça a necessidade de novas estratégias de crescimento e diversificação. A aliança com a Chery surge como um instrumento para recuperação de competitividade, expansão de portfólio e presença local mais forte. Ao explorar veículos chineses já desenvolvidos, a Renault evita o custo de desenvolver completamente novas plataformas para mercados de escala limitada.

Porém, desafios são abundantes. A integração tecnológica entre duas arquiteturas de engenharia distintas, a necessidade de compatibilização de padrões de qualidade e certificações, e o risco de conflitos estratégicos entre o controle da marca Renault e a contribuição da Chery devem ser gerenciados com rigor. A Renault precisará demonstrar credibilidade e competência operacional para convencer governos, fornecedores e consumidores de que isso é mais do que um simples acordo de montagem.

Se bem sucedida, essa parceria pode transformar a presença da Renault na América Latina: atuar como pivô entre a técnica chinesa e a tradição europeia; recompor sua vantagem competitiva; e criar um efeito de arrasto frente a rivais que dependem muito da importação ou produção centralizada em países distantes. Num mercado cada vez mais definido pela mobilidade elétrica, eficiência e integração regional, essa aliança pode representar uma virada ambiciosa — ainda em gestação.

Fonte: Exame e Canaltech.

Alan Corrêa
Alan Corrêa
Jornalista automotivo (MTB: 0075964/SP) e analista de mercado. Especialista em traduzir a engenharia de lançamentos e monitorar a desvalorização de usados. No Carro.Blog.br, assina testes técnicos e guias de compra com foco em durabilidade e custo-benefício.