A Austrália e o Brasil, apesar da distância geográfica, compartilham características e desafios na busca por soluções climáticas. Ambos os países enfrentam a necessidade de equilibrar a exploração de combustíveis fósseis com o desenvolvimento de energias limpas, considerando seus papéis como grandes exportadores de recursos naturais.
Pontos Principais:
A embaixadora australiana para mudanças climáticas, Kristin Tilley, destaca que essa transição energética pode ser uma oportunidade de colaboração. Com economias modernas e agrícolas, os países podem compartilhar experiências no enfrentamento dos impactos das mudanças climáticas em setores essenciais, como a agricultura. A transição para fontes renováveis de energia também é um ponto em comum que demanda planejamento estratégico.
Além disso, a diplomata enfatizou a importância de se adaptar às demandas globais por descarbonização, o que requer investimentos em tecnologias e infraestruturas para substituir gradualmente as exportações de combustíveis fósseis por fontes de energia renovável.
A Austrália, um dos maiores exportadores de combustíveis fósseis, tem investido em iniciativas para se tornar uma potência em energia limpa. Recentemente, o governo destinou recursos significativos para incentivar indústrias sustentáveis e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. No entanto, o país ainda mantém altos índices de exportação desses recursos, o que reflete a complexidade da transição energética.
Kristin Tilley ressalta que, embora o ideal fosse uma redução imediata na exportação de combustíveis fósseis, a dependência energética de outras nações ainda dificulta esse processo. Segundo a embaixadora, a transição precisa ser gradual para evitar impactos econômicos e sociais significativos.
O governo australiano também se comprometeu com metas de emissões líquidas zero até 2050, contando com o apoio de ambos os principais partidos políticos. Contudo, a oposição tem demonstrado ceticismo em relação à viabilidade de atingir essas metas até 2030, o que pode impactar futuros planos de ação climática.
A Austrália é candidata a sediar a COP31, prevista para 2026. A proposta australiana busca destacar as demandas das nações insulares do Pacífico, que enfrentam graves ameaças devido às mudanças climáticas. Segundo Tilley, sediar a conferência daria visibilidade às vozes desses países e impulsionaria esforços globais para ações mais robustas.
No entanto, a candidatura enfrenta resistência da Turquia, que também deseja sediar o evento. Apesar das negociações entre os dois países, ainda não houve consenso sobre uma proposta conjunta. A diplomata australiana reforçou que o compromisso australiano vai além do interesse nacional, priorizando uma abordagem colaborativa com as nações do Pacífico.
A colaboração entre Brasil e Austrália também pode se intensificar, considerando que a COP30 será realizada em Belém, no Brasil. Essa proximidade temporal pode servir como oportunidade para ampliar parcerias climáticas entre os dois países, especialmente em questões agrícolas e energéticas.
Durante a COP29, realizada em Baku, os compromissos financeiros firmados pelos países desenvolvidos para apoiar nações vulneráveis ficaram abaixo das expectativas científicas. A Austrália se posicionou favorável à ampliação da base de doadores, defendendo que países com economias emergentes, como a China e outros membros do G20, também contribuam mais para o financiamento climático.
A diplomata destacou que, embora o compromisso anual acordado seja de US$ 300 bilhões, as necessidades climáticas globais exigem valores superiores a US$ 1,3 trilhão até 2035. Para isso, é essencial combinar fontes públicas e privadas, além de atrair novos doadores globais.
A discussão sobre a inclusão de novas economias na base de doadores reflete a evolução de países que, em 1992, eram classificados como em desenvolvimento, mas que hoje possuem maior capacidade financeira para contribuir com ações climáticas.
O Brasil, assim como a Austrália, enfrenta desafios relacionados à sustentabilidade em setores essenciais. O desmatamento é responsável por 38% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, seguido pela agropecuária, que representa 28,5% das emissões, principalmente devido à produção de metano pelo gado.
A produção de energia também é um setor relevante, representando 23,2% das emissões. Apesar de possuir uma matriz energética com alta proporção de renováveis, o Brasil ainda é um exportador significativo de combustíveis fósseis. Esse cenário coloca o país diante da necessidade de tomar decisões políticas importantes sobre o futuro de suas explorações.
A cooperação com a Austrália em questões técnicas e estratégicas pode ajudar o Brasil a avançar em seus compromissos climáticos, especialmente no setor agrícola e na busca por alternativas energéticas mais limpas.
O possível retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e sua intenção de retirar o país do Acordo de Paris são preocupações para a comunidade internacional. Segundo Kristin Tilley, esse cenário poderia trazer desafios, mas não seria suficiente para interromper completamente o progresso das ações climáticas globais.
A embaixadora destacou que, mesmo durante períodos em que os EUA e a Austrália estiveram fora de grandes compromissos climáticos, houve avanços significativos graças à colaboração de outros países. Para ela, o foco deve permanecer na continuidade dos esforços globais, independentemente de mudanças políticas em grandes potências.