Ônibus elétrico é a solução para a mobilidade sustentável no Brasil?

A adoção de ônibus elétricos como meio de reduzir as emissões de carbono nas cidades é uma estratégia promissora, como destacado no estudo analisado por Roberto Marx e Tiago Zillio, da Universidade de São Paulo. A pesquisa traz dados importantes sobre os custos iniciais mais altos dos ônibus elétricos comparados aos diesel, mas aponta que, no longo prazo, os custos operacionais reduzidos e a maior eficiência energética dos elétricos os tornam quase equivalentes em termos de custo total de vida útil.
Publicado em Tecnologia dia 25/04/2024 por Alan Corrêa

O estudo realizado por Roberto Marx, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, e Tiago Zillio, aluno do curso de Engenharia de Produção, foca na análise comparativa entre ônibus elétricos e a diesel. A pesquisa, voltada para a aplicação na cidade de São Paulo, busca avaliar os custos e as emissões de carbono associados a cada tipo de motorização durante todo o ciclo de vida dos veículos, desde a produção até o descarte.

Os resultados do estudo indicam que, embora os ônibus elétricos apresentem um custo inicial de capital significativamente mais alto, os custos operacionais mais baixos e a eficiência energética superior podem compensar esses valores iniciais ao longo do tempo. A pesquisa também acompanha as emissões de poluentes, observando a eficiência do motor elétrico para converter energia em quilometragem e o impacto do uso de fontes renováveis de energia.

A necessidade de avaliar a eficiência energética e as emissões de carbono se mostra fundamental em um cenário de crescente preocupação com as mudanças climáticas. O estudo busca fornecer uma base de dados robusta que possa auxiliar na tomada de decisões sobre políticas públicas e estratégias de transporte urbano focadas na sustentabilidade.

“É um trabalho inédito e tem resultados interessantes no momento em que a cidade de São Paulo e seu prefeito atual tem pretensões nessa área. São Paulo, juntamente com a Lei do Clima, tem um processo continuado de descarbonização”, explica.

Análise de Custos e Emissões de Carbono

O estudo apresenta uma comparação detalhada dos custos associados à aquisição e manutenção de ônibus elétricos versus ônibus a diesel. Inicialmente, os ônibus elétricos são mais caros devido, principalmente, ao alto custo das baterias. No entanto, os custos com combustível e manutenção dos ônibus a diesel acabam por elevar os custos operacionais desses veículos ao longo do tempo.

De acordo com Tiago Zillio, a análise de custo mostra que os ônibus elétricos são apenas menos de 1% mais caros no ciclo de vida total, comparados aos ônibus a diesel, quando se considera a economia gerada pela eficiência do motor elétrico. Este ponto é crucial para entender a viabilidade econômica dos ônibus elétricos a longo prazo, principalmente em grandes centros urbanos onde a frequência de uso é maior.

“Por conta do motor elétrico ser mais eficiente do que o motor de combustão interna, no que se refere ao custo de abastecimento, eles têm custo muito menor do que os ônibus a diesel e, no ciclo de vida, são menos de 1% mais caros apenas. Então, é um investimento que vale a pena, porque eles custam quase o mesmo, mas são menos prejudiciais ao meio ambiente”, esclarece.

Em relação às emissões de carbono, o estudo destaca que os ônibus elétricos inicialmente emitem mais CO2 devido à produção de baterias. Contudo, essa desvantagem é progressivamente mitigada pela maior eficiência dos motores elétricos e pelo uso de energia renovável. Essa transformação resulta em uma redução significativa das emissões totais de carbono ao longo da vida útil do veículo.

Desafios e Perspectivas para São Paulo

A cidade de São Paulo enfrenta desafios significativos na implementação de uma frota de ônibus elétricos, conforme destacado por Roberto Marx. Um dos principais problemas é a capacidade da infraestrutura de energia elétrica existente, que pode não ser suficiente para suportar o carregamento de uma grande frota de ônibus elétricos.

Outro aspecto considerado pelo estudo é a necessidade de diversificar as soluções de motorização. A dependência exclusiva de ônibus elétricos pode não ser a abordagem mais eficaz, dadas as limitações atuais e os custos associados. Explorar uma combinação de veículos elétricos e outras tecnologias limpas pode ser uma estratégia mais adaptável e sustentável a longo prazo.

A pesquisa enfatiza a importância de políticas públicas que apoiem a transição para um transporte menos poluente. Isso inclui incentivos para a adoção de veículos elétricos, investimentos em infraestrutura de recarga e a atualização de leis ambientais para suportar essas mudanças.

“Temos a necessidade de considerar uma diversidade de alternativas de motorização e, com isso, poder caminhar em passos cada vez mais largos no sentido de estabelecer e alcançar as metas dessa lei, que estão atrasadas. Também é preciso observar essa parte da rede de recarga, pois vai ser muito difícil para a cidade de São Paulo conseguir abastecer todos os veículos”, finaliza.

*Com informações do Jornal da USP.