O farol abre e o carro sai sem drama, sem tranco, sem ruído. É nesse momento banal do dia a dia que o Chevrolet Onix RS 2026 tenta responder à pergunta que paira sobre ele desde que os SUVs tomaram as ruas, ainda existe espaço para um hatch compacto que custa R$ 130.190?
A resposta da Chevrolet não vem em discurso, vem em comportamento. O Onix RS segue fazendo exatamente aquilo que sempre fez bem, andar fácil na cidade, rodar leve na estrada e entregar um consumo que continua impressionando. O motor 1.0 turbo de 115,5 cv e 16,8 kgfm não empurra o corpo contra o banco, mas move o carro com naturalidade, como quem já conhece cada trecho do caminho. Não há surpresa, e talvez seja justamente isso que explique por que tanta gente ainda confia nesse conjunto.

O RS, no entanto, muda a conversa ao olhar. Spoilers, rodas escurecidas, detalhes em preto e o aerofólio deixam claro que a proposta é visual. Ele chama atenção no estacionamento do mercado, no semáforo à noite, na saída do prédio. Só que basta alguns quilômetros para perceber que o comportamento não muda. O câmbio automático de 6 marchas trabalha de forma suave, sem possibilidade de trocas manuais, e o carro responde exatamente como qualquer outro Onix automático. Para alguns, isso soa honesto. Para outros, cria aquela sensação incômoda de que o nome RS promete mais do que entrega.
No uso diário, o Onix continua fácil de gostar. Direção leve, boa visibilidade e uma posição de dirigir que não cansa. A atual geração acertou nesse ponto e o facelift manteve o mérito. Em ruas esburacadas ou no asfalto irregular das marginais, a suspensão filtra bem as imperfeições e transmite segurança, mesmo sem qualquer pretensão esportiva. É um carro que convida a rodar mais, não a acelerar mais.
“Eu compraria o Onix RS pelo visual esportivo bem resolvido, rodas, detalhes escurecidos e acabamento interno mais caprichado, mas sem criar expectativa de desempenho, porque ele não é esportivo de verdade, anda igual às outras versões automáticas. Vale a pena quando o foco é consumo baixo, conforto no dia a dia e revenda forte, não quando a ideia é dirigir de forma mais envolvente ou buscar sensação esportiva.”
E rodar mais significa gastar menos. No teste, os números falam por si, 11,7 km/l na cidade e 18 km/l na estrada, sempre com gasolina. Não é apenas economia no posto, é previsibilidade no fim do mês, algo que pesa muito quando o orçamento aperta e o combustível insiste em subir. Para quem passa horas no trânsito ou depende do carro para trabalhar, esse detalhe deixa de ser técnico e vira argumento emocional.

A conversa inevitavelmente chega à correia banhada a óleo. O assunto já virou quase um personagem próprio na história do Onix. A Chevrolet não mudou o sistema, mas trocou o fornecedor e ampliou a garantia para 240.000 km, cobrindo carros desde 2020, mesmo se já trocaram de dono. É um recado direto ao mercado de usados e a quem pensa na revenda antes mesmo de assinar o financiamento. A dúvida, claro, continua rondando, mas o peso da decisão agora é diferente.
Por dentro, o Onix RS tenta acompanhar o ritmo do consumidor atual. Painel digital, central multimídia maior, Android Auto e Apple CarPlay sem fio funcionando com rapidez. A interface é simples, sem firula, e cumpre bem o papel de facilitar a vida de quem passa o dia alternando entre mapas, música e mensagens. Os detalhes em vermelho aparecem com discrição, sem exagero, e o ambiente escuro agrada mais do que afasta.
O acabamento, porém, entrega a origem do projeto. Plástico rígido domina portas e painel, mesmo na versão mais cara. A Chevrolet trabalhou texturas e encaixes, mas não há como ignorar que o preço subiu mais rápido do que o refinamento. Isso pesa quando o consumidor percebe que versões mais baratas oferecem itens de segurança que o RS não tem, como alerta de ponto cego, presente na Premier que custa menos. A escolha parece contraditória e provoca aquela pausa silenciosa no meio da concessionária.

O espaço interno segue sendo um dos maiores argumentos. Com 4.169 mm de comprimento, 2.551 mm de entre-eixos e porta-malas de 303 litros, o Onix acomoda adultos com dignidade e encara viagens curtas sem exigir concessões imediatas. É o tipo de carro que resolve a rotina de uma família pequena sem parecer apertado, algo cada vez mais raro no segmento.

Talvez o ponto mais curioso do Onix RS 2026 seja justamente a forma como ele resiste. Desde 2019, já foram 806.943 unidades emplacadas, um número que não se ignora nem se abandona com facilidade. O mercado mudou, o desejo mudou, mas o hatch segue ali, firme, entregando exatamente o que sempre entregou, sem prometer revoluções.
A pergunta que fica martelando não é se ele é bom ou ruim. É outra, bem mais prática e incômoda, faz sentido pagar R$ 130 mil por um hatch que aposta na previsibilidade enquanto os SUVs, mais altos e nem sempre mais eficientes, continuam seduzindo na vitrine ao lado, exatamente no momento em que o consumidor brasileiro precisa decidir com mais cuidado onde cada real vai parar.