Durante décadas, a indústria automotiva alternou entre eficiência e durabilidade ao escolher os sistemas de sincronização de válvulas dos motores. A correia dentada sempre foi sinônimo de baixo custo e funcionamento silencioso, mas com vida útil limitada. Já a corrente metálica, embora mais durável, compromete o consumo e o desempenho por ser mais pesada e gerar mais atrito. A promessa da correia dentada banhada a óleo parecia o meio-termo ideal: alta durabilidade com baixa resistência mecânica.
A proposta ganhou tração entre fabricantes que buscavam atender às crescentes exigências por eficiência energética e redução de emissões. General Motors, Ford, PSA e outras passaram a adotar o componente em motores de três cilindros que hoje equipam milhões de veículos no Brasil. As fabricantes garantem durabilidade superior a 200 mil km — desde que a manutenção esteja rigorosamente em dia. O uso do óleo correto, com aditivação específica, é parte essencial da equação. Nesse ponto, está a origem de boa parte dos problemas relatados.
A realidade brasileira mostra que o elo mais fraco do sistema não é a tecnologia em si, mas o comportamento do consumidor. Muitos proprietários negligenciam revisões, utilizam lubrificantes fora da especificação e extrapolam os prazos de troca. É um padrão já conhecido no mercado de usados: manutenção corretiva em vez de preventiva. Embora existam casos de falhas mesmo com o plano de manutenção seguido à risca, o maior fator de risco segue sendo a falta de cuidados básicos. E, nesse cenário, qualquer sistema mecânico está vulnerável.
As transformações técnicas que acompanharam a chegada da nova geração do Chevrolet Onix, em 2019, trouxeram mudanças significativas para o mercado automotivo brasileiro. Entre elas, a introdução da correia de sincronismo banhada a óleo nos motores da família CSS Prime. Essa tecnologia, embora utilizada por diferentes fabricantes no exterior há algum tempo, passou a ser adotada com maior volume no Brasil por marcas como Chevrolet, Ford, Peugeot e Citroën.
A correia banhada a óleo substitui sistemas mais tradicionais como corrente de comando ou correias dentadas secas. Por atuar imersa no óleo do motor, essa solução tem como proposta oferecer menor atrito, maior durabilidade e menos ruído. No entanto, o uso dessa tecnologia gerou controvérsias, principalmente após relatos de falhas em motores, amplamente divulgados em fóruns, grupos de redes sociais e depoimentos de mecânicos independentes.
Com a adoção dessa correia, surgiram questionamentos sobre a real vantagem do sistema, os cuidados exigidos e os impactos que a falta de manutenção pode causar no desempenho e na vida útil do motor. Mais do que uma inovação técnica, o componente se tornou um tema de discussão entre consumidores, oficinas, montadoras e o mercado de seminovos.
A General Motors incorporou a correia banhada a óleo em sua nova linha de motores três-cilindros aspirados e turbo, conhecidos como CSS Prime, utilizados no Onix, Onix Plus, Tracker e Montana. Porém, essa não foi a primeira montadora a adotar a solução no Brasil. A Ford, por exemplo, já usava esse sistema desde 2014, quando lançou o Ka com motor 1.0 três-cilindros. Modelos como o EcoSport 1.5 Dragon, o Fiesta 1.0 Ecoboost e a atual Ranger 2.0 turbodiesel também utilizam a mesma arquitetura.
As marcas francesas Peugeot e Citroën também utilizaram correias imersas em óleo no motor 1.2 Puretech, aplicado em modelos como o Peugeot 208 e Citroën C3 da segunda geração. Com a reorganização interna após a fusão com o grupo Stellantis, essa motorização acabou sendo descontinuada nos compactos nacionais, mas deixou um histórico de funcionamento baseado em intervalos regulares de manutenção.
Cada fabricante estabelece um plano de manutenção específico, com intervalos determinados para a substituição preventiva da correia. Em alguns casos, a vida útil da peça pode ultrapassar o período de garantia do veículo, gerando uma falsa impressão de que não há necessidade de preocupação com o item.
Os registros de falhas mecânicas após a quebra da correia de sincronismo não estão, necessariamente, ligados a defeitos de fabricação. Especialistas consultados apontam que grande parte dos problemas ocorre por falhas na manutenção preventiva. O uso de óleos lubrificantes inadequados ou de procedência duvidosa compromete a integridade da correia, que depende de aditivos específicos para garantir sua durabilidade.
Em muitos casos, veículos oriundos de locadoras ou frotas apresentam histórico de manutenção baseado em custos reduzidos, o que inclui a troca por óleos genéricos e prazos estendidos de revisão. Essa prática compromete o funcionamento do motor, já que a correia pode sofrer desgaste prematuro, gerar fragmentos e entupir os canais de lubrificação, especialmente os que alimentam as polias de comando variável.
Segundo técnicos do setor, sinais de alerta incluem ruídos intermitentes, perda de desempenho e falhas no funcionamento do motor. Esses indícios geralmente aparecem antes da quebra total da peça, mas são frequentemente ignorados. A manutenção fora de concessionárias autorizadas, embora mais barata, dificulta o acesso a peças homologadas e lubrificantes com a especificação correta, como os óleos com certificação Dexos recomendados pela GM.
O histórico de falhas associado à má manutenção tem gerado efeitos diretos no mercado de veículos seminovos. Modelos com motores equipados com correia banhada a óleo, quando oriundos de locadoras ou sem comprovação de revisões em concessionárias, enfrentam resistência na revenda. O alto custo de reposição da correia e a dificuldade em comprovar o uso de peças e fluídos originais elevam a desvalorização desses automóveis.
Segundo especialistas do mercado, a recomendação para quem deseja adquirir um veículo com esse tipo de sistema é observar o histórico completo de revisões e dar preferência a unidades com manutenção registrada em rede autorizada. O custo do óleo recomendado pela GM, por exemplo, pode ultrapassar R$ 100 por litro, o que inibe a adoção em oficinas independentes. Essa realidade impacta principalmente consumidores que buscam veículos com alta quilometragem por valores mais acessíveis.
A substituição da correia, mesmo quando preventiva, demanda mão de obra especializada. O acesso ao componente exige desmontagem parcial do motor e utilização de ferramentas específicas. Isso torna o processo custoso e complexo, o que reforça a importância do uso correto desde os primeiros mil quilômetros rodados.
A General Motors afirma que a escolha pela correia banhada a óleo está alinhada com metas de eficiência energética. A redução de peso no conjunto do motor e a diminuição do atrito entre os componentes são justificativas apresentadas pela montadora. De acordo com a marca, o projeto passou por validação e testes para garantir durabilidade acima da média, com revisões previstas para uso normal a cada 10.000 km ou 12 meses.
Para motoristas com uso severo, como motoristas de aplicativo e representantes comerciais, a recomendação é antecipar as revisões para cada 5.000 km ou 6 meses. A GM também informa que realiza ações de orientação em suas concessionárias sobre o uso adequado de lubrificantes e prazos de manutenção. No entanto, conforme previsto na Lei Geral de Proteção de Dados, a montadora não mantém comunicação ativa com todos os proprietários, cabendo ao consumidor manter os cuidados necessários.
A marca também alerta sobre a presença de óleos falsificados no mercado, que podem trazer a especificação correta na embalagem, mas não possuem os aditivos adequados. Dados do Sindilub apontam que 10% dos lubrificantes vendidos no Brasil são adulterados. A orientação é realizar a troca em oficinas de confiança e evitar produtos com preços muito abaixo da média.
Para garantir o bom funcionamento dos motores equipados com correia banhada a óleo, a manutenção precisa seguir à risca as recomendações do fabricante. Isso inclui a escolha correta do óleo, o cumprimento dos prazos e a observação de ruídos ou anomalias no funcionamento do motor. O uso de óleos com certificação Dexos e a preferência por serviços em oficinas autorizadas são elementos centrais para preservar a integridade do sistema.
O uso prolongado ou em condições severas, como trânsito urbano intenso, rotinas de trabalho com o motor sempre quente ou longos períodos em marcha lenta, pode acelerar o desgaste da correia. Esses fatores exigem atenção especial e, em alguns casos, revisões mais frequentes do que o recomendado para uso convencional.
Para quem pretende adquirir modelos com esse tipo de sistema, o ideal é realizar uma verificação detalhada do histórico do veículo, dar preferência a unidades com baixa quilometragem e exigir notas fiscais de revisões anteriores. A economia no momento da compra pode resultar em gastos inesperados no médio prazo, especialmente se houver a necessidade de substituir a correia e outros componentes associados.
A Chevrolet adotou uma solução definitiva para as falhas precoces da correia dentada banhada a óleo nos motores 1.0 e 1.2 dos modelos Onix, Tracker e Montana. Embora a promessa inicial fosse de durabilidade de até 240 mil km, diversos proprietários relataram problemas antes desse limite, o que gerou uma onda de reclamações e preocupação com os custos de manutenção a longo prazo.
Para lidar com a situação, a montadora passou a oferecer uma garantia sem limite de tempo para esse componente, desde que o proprietário siga rigorosamente o plano de manutenção previsto no manual do veículo. A GM reforça que o uso de óleo lubrificante fora das especificações é um dos principais fatores que comprometem a vida útil da correia banhada a óleo.
A troca da correia no motor Ecotec 1.0 Turbo exige ferramentas adequadas e atenção à montagem, que deve respeitar a direção da correia, a tensão correta e o sincronismo do motor. O procedimento técnico é detalhado e inclui cuidados desde a desmontagem até os testes finais, exigindo que todas as conexões e peças sejam reinstaladas conforme a ordem original.
Com essa política de garantia e exigência de manutenção adequada, a Chevrolet tenta restabelecer a confiança dos consumidores e assegurar a durabilidade do sistema. A marca também busca educar os usuários sobre a importância de seguir todas as orientações do manual, incluindo o uso exclusivo de peças e lubrificantes originais.
Fonte: AutoPapo, Motor1, R7 e QuatroRodas.