A história do motor AP

O motor AP tem uma longa história no Brasil. Seu baixo custo de manutenção e a facilidade na reposição das peças foram os fatores que proporcionaram a abundância desse item no mercado nacional. O motor de combustão interna era caracterizado pelo bloco em ferro fundido, 4 cilindros em linha, cabeçote de alumínio com comando de válvulas e a refrigeração a água. Foi comercializado nas cilindradas 1600, 1800 e 2000.
Publicado em História dia 20/02/2021 por Alan Corrêa

O motor AP tem uma longa história no Brasil. Seu baixo custo de manutenção e a facilidade na reposição das peças foram os fatores que proporcionaram a abundância desse item no mercado nacional.

O motor de combustão interna era caracterizado pelo bloco em ferro fundido, 4 cilindros em linha, cabeçote de alumínio com comando de válvulas e a refrigeração a água. Foi comercializado nas cilindradas 1600, 1800 e 2000.

Origem do motor AP

O motor AP ficou mundialmente famoso, e por causa da sua robustez e do custo baixo da manutenção – o que se devia à produção em larga escala – durou várias décadas. Mas o que não é tão conhecido é que sua origem se deve a um antigo projeto militar da Mercedes-Benz.

No ano de 1958, a Daimler-Benz comprou quase 90% da Auto Union, marca fundada em 1932 com a fusão das empresas Audi, Wanderer, Horch e DKW. O objetivo da aquisição eram os compactos modelos da DKW, que faziam sucesso na Alemanha pós guerra.

Mas a economia estava em franca ascensão, e a demanda por carros melhores começavam a se fazer sentir. Ludwig Krauss foi a pessoa escolhida para iniciar o projeto, do qual nasceram os motores 1.5 boxer e o 1.7 de quatro cilindros em linha.

Mas a DKW continuava insistindo nos velhos motores de dois tempos fumacentos que exigiam óleo misturado na gasolina. Mas esses motores não paravam de apresentar problemas, e em 1962 a Mercedes se viu na contingência de enviar Krauss para encontrar uma solução.

Um sucesso parcial foi obtido, mas os motores continuavam mostrando um desempenho ruim, produzindo apenas 60 cv de potência. Foi então que surgiu a ideia de recorrer ao 1.7 de quatro cilindros. Surgia então o Audi F103, que posteriormente ficou conhecido com Audi 72, pois produzia 72 cv de potência.

Logo surgiriam os Audi 80 e Audi Super 90. Seguindo a linha cronológica, o Audi 80 é o pai do primeiro Passat, que nascia em 1973 na Europa e chegaria ao Brasil no ano seguinte.

Evoluções ao longo do tempo

O motor refrigerado a água teve um grande impacto no mercado automobilístico brasileiro, tendo sido estreado no Passat em 1973. A sua concepção contrariava o próprio slogan da Volkswagen na época, que dizia “ar não ferve”, fazendo alusão a seus motores Boxer, que eram refrigerados a ar.

Em 1976, foi lançada a versão 1.6, que passou a ser chamada de BS, e que equipava o Passat TS. Em 1983 foi lançado o motor MD-270, que tinha recebido alterações na taxa de compressão, com novos comando de pistões e um carburador de corpo duplo e ignição eletrônica. Também esse era refrigerado a água.

Apenas em 1985 esse motor passou a ser chamado de AP. Este motor equipou o primeiro Passat GTS Pointer, Gol GT e Santana, e pouco tempo depois toda a linha VW. Nesse momento a cilindrada do motor era 1800.

Em 1989 viria o AP 2000, que equipava Gol GTI, por isso as versões AP 600 e AP 800 seriam rebatizadas de AP 1600 e AP 1800, enquanto do de 2000 cilindradas seria o AP 2000. Foi nessa época que as bieletas cresceram de 136mm para 144mm, diminuindo a vibração dentro do carro.

Um novo motor na Volkswagen

Apesar do enorme sucesso do motor AP, a Volkswagen precisava melhorar sua tecnologia para não parar no tempo. Assim, em 1995 nasceu o motor EA837. Nascia uma nova geração de motores que competiriam com os motores AP. Esses novos motores se caracterizavam pelos blocos de 259mm e bielas de 159mm, que reduziam a vibração do carro, proporcionando mais conforto para os ocupantes.

Esse motor passou a equipar o modelo Golf GLX e GTI já em 1995, e os modelos Golf IV, Audi A3 nacional, os espanhóis Seat Cordoba, Ibiza e Vario, de 1999 até 2001. Mais tarde, a partir de 2002, também o Polo hatch e sedan. Em 2009 ele se tornou flex, e entre 2011 e 2015 equipou o Jetta.

Assim, o motor da família EA conviveu com o motor AP até 2012, quando encerrou a produção da Parati e ele foi descontinuado. Assim, a Saveiro e a Parati foram os últimos modelos a receberem o motor AP, nas versões 1.6 e 1.8.

Porque o motor AP é tão famoso?

Hoje é difícil entender porque o motor AP é tão famoso ainda em nossos dias. Além desse motor ser um grande avanço em seu tempo, ele tem algumas qualidades que o torna muito querido. Uma dessas características é a facilidade com que ele pode ser “preparado”, ou seja, receber uma “turbinação caseira”.

Como o motor AP é feito para suportar uma taxa de compressão, ele pode receber alguns “ajustes” para entregar mais potência. A facilidade para encontrar peças – especialmente pistões e bielas – e a versatilidade o tornam um dos motores mais requisitados para esse tipo de uso.

Dependendo da preparação, o motor AP pode render até 1mil cavalos. Esse número é impressionante se considerarmos que ao longo de sua existência a família AP tenha produzido em torno de 100 cv apenas. Claro que para isso o motor recebe diversas modificações, mas é sempre o motor AP o coração dessa engenharia.

Algumas curiosidades sobre o motor AP

Uma das curiosidades do motor AP é que ele foi o primeiro motor flex que teve no Brasil, o que aconteceu em março de 2003 com o modelo Gol 1.6 Total Flex. A potência desse modelo girava em torno dos 100 cv.

Foi também um motor AP que recebeu pela primeira vez o sistema de injeção eletrônica no país, e isso aconteceu no ano de 1988, com o modelo Gol GTI, que foi apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo naquele ano.

Esse motor é tão bom, que até hoje os motores Audi têm o motor AP como base. Não é dizer que eles ainda são utilizados nos modelos da marca, mas sim que os motores mais recentes possuem diversas semelhanças com o AP, herança do lendário motor.