Volkswagen T-Cross 2025 despenca nas vendas e expõe crise silenciosa dentro da VW brasileira

Volkswagen T-Cross 2025 despenca nas vendas e expõe crise silenciosa dentro da VW brasileira
A queda nas vendas do T-Cross não veio por acaso, mas reflete o caos silencioso na fábrica da VW e a transição para novos projetos.
Publicado por em Brasil e Negócios dia

O Volkswagen T-Cross 2025 vive um momento estranho. Depois de ser o queridinho das ruas brasileiras e dominar o ranking da Fenabrave, o SUV agora amarga uma fase de retração que ninguém esperava. É curioso como, em poucos meses, o carro que simbolizava a força da marca alemã entre os compactos virou exemplo de como o sucesso pode escorregar fácil no mercado automotivo.

Pontos Principais:

  • O T-Cross foi líder absoluto em 2024, mas despencou no ranking da Fenabrave em 2025.
  • A queda foi causada por ajustes na fábrica de São José dos Pinhais para receber nova picape.
  • O projeto “247” interrompeu parte da linha de montagem e reduziu o volume de produção do SUV.
  • A VW tentou manter o mercado com estoques, mas a demanda superou o planejamento.
  • A normalização da produção está prevista para novembro, com impacto direto nas vendas.
  • Mesmo com o Tera em alta, a marca nega canibalização entre os modelos.
  • O caso do T-Cross mostra o risco de transição industrial em plena competição acirrada.

Em 2024, o T-Cross era praticamente onipresente. Foram quase 84 mil unidades vendidas, e a Volkswagen parecia ter encontrado o equilíbrio perfeito entre preço, design e confiança de marca. Nos seis primeiros meses de 2025, o ritmo seguia firme, com 44,5 mil exemplares emplacados. Mas, a partir do meio do ano, algo começou a desandar. A queda foi visível, e setembro marcou o fundo do poço: menos de 5 mil carros vendidos, um contraste gritante com os picos anteriores.

O T-Cross vive uma virada improvável. Depois de liderar o mercado em 2024, o SUV da Volkswagen enfrenta uma queda brusca, deixando o topo dos mais vendidos em apenas alguns meses.
O T-Cross vive uma virada improvável. Depois de liderar o mercado em 2024, o SUV da Volkswagen enfrenta uma queda brusca, deixando o topo dos mais vendidos em apenas alguns meses.

Nas redes, começaram a pipocar as teorias. Alguns apostavam que o novo Tera estava “roubando” o público. Outros diziam que a Volks tinha perdido o timing das renovações, deixando o T-Cross com cara de modelo cansado. A verdade, porém, é mais pragmática: o problema não estava nas concessionárias, mas na linha de produção.

A fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná, onde o SUV nasce, está em plena reconfiguração. A Volkswagen está adaptando o espaço para abrigar sua futura picape monobloco — o projeto “247”, que promete rivalizar com Fiat Toro e Chevrolet Montana. Enquanto os robôs e operários redesenham a linha, a produção do T-Cross anda aos trancos e barrancos. Houve paralisações completas, cortes de ritmo e, inevitavelmente, menos carros chegando às lojas.

A Volks tentou se precaver. Antes da reforma, montou um “estoque de segurança” para sustentar as vendas durante a transição. Mas a demanda foi maior do que o previsto, e o estoque evaporou. Quando o mercado percebeu, já não havia T-Cross suficiente para atender todo mundo. E, sem carro no pátio, não há número que se sustente na Fenabrave.

Nos bastidores, a marca garante que tudo está dentro do plano. A retomada parcial começou em outubro, com a promessa de voltar à capacidade máxima só em novembro. Até lá, o T-Cross deve seguir ausente das listas de mais vendidos, mas a Volks aposta que o retorno será rápido — ainda mais com a chegada da linha 2026 e um novo fôlego de marketing.

A queda de um modelo tão popular expõe algo maior: o momento de transição que a indústria vive. A Volkswagen, como as demais montadoras, está tentando ajustar o passado à pressa do futuro. Entre elétricos, híbridos e novas categorias, o T-Cross vira um personagem simbólico — um carro preso entre duas eras, tentando não perder relevância enquanto a marca redesenha sua própria identidade.

Se o T-Cross vai recuperar o trono, ninguém sabe. Mas uma coisa é certa: ele deixa claro que, no jogo atual, vender carro não é só sobre fazer um bom carro. É sobre manter a fábrica viva, o estoque cheio e o algoritmo da curiosidade rodando a favor.

Fonte: Fenabrave.

Alan Corrêa
Alan Corrêa
Jornalista automotivo (MTB: 0075964/SP) e analista de mercado. Especialista em traduzir a engenharia de lançamentos e monitorar a desvalorização de usados. No Carro.Blog.br, assina testes técnicos e guias de compra com foco em durabilidade e custo-benefício.