O Toyota Yaris Cross chega ao Brasil cercado de expectativa. A promessa é grande, inaugurar uma nova fase entre os SUVs compactos, com tecnologia híbrida flex, consumo baixo e o peso simbólico de ser algo inédito no mercado nacional. Na teoria, parece o carro certo para o momento. Na prática, ele entrega exatamente o que promete em eficiência, mas cobra um preço que muda completamente a conversa.

Depois de anos de anúncios, adiamentos e silêncio, o Yaris Cross finalmente entra em pré-venda no Brasil. As primeiras unidades, porém, só chegam às ruas entre fevereiro e março de 2026. É um detalhe que já diz muito sobre o perfil do comprador. Quem entra agora precisa pagar caro e ainda esperar. Em troca, leva o primeiro SUV compacto híbrido flex produzido e vendido no país, um movimento estratégico da Toyota para avançar na eletrificação sem abandonar o etanol.
O problema começa quando o discurso técnico encontra a realidade do preço. A linha parte de R$ 161.390 e chega a R$ 189.990 durante a pré-venda. A partir desse ponto, o Yaris Cross deixa de ser comparado naturalmente a SUVs compactos tradicionais. Ele escapa do radar de quem olha para WR-V, Kicks ou Nivus e passa a disputar atenção com modelos maiores, mais potentes e já consolidados, como Honda HR-V, Jeep Compass, Volkswagen Taos e até o Toyota Corolla Cross.
O teste do Latin NCAP trouxe um alerta importante ao atribuir apenas duas estrelas ao resultado de segurança do modelo avaliado. Apesar de a estrutura ter sido considerada estável no impacto frontal e de os índices para ocupantes adultos e infantis não serem baixos, a proteção do tórax do motorista foi classificada como marginal em colisões mais severas, incluindo o impacto lateral contra poste, o que pesou negativamente na nota final.
O desempenho fraco apareceu principalmente na proteção a pedestres e usuários vulneráveis, além da assistência à segurança. A ausência de sistemas avançados, como frenagem autônoma de emergência eficaz dentro do protocolo e assistente de velocidade, reduziu significativamente a pontuação. O resultado reflete a evolução dos critérios do Latin NCAP, hoje mais focados na prevenção de acidentes, e mostra que atender apenas aos requisitos básicos já não é suficiente para alcançar boas classificações.
A Toyota aposta todas as fichas no conjunto híbrido flex. Nas versões eletrificadas, o SUV combina um motor 1.5 aspirado flex ajustado para 91 cv com dois motores elétricos, somando 111 cv de potência combinada. Não é um número empolgante para o segmento, ainda mais considerando porte, peso e valor. A ausência de dados oficiais de aceleração reforça a mensagem implícita. Aqui, desempenho não é protagonista.

E nisso ele cumpre o que promete. Os números de consumo homologados pelo Inmetro impressionam. O híbrido chega a 17,9 km/l na cidade e 15,3 km/l na estrada. Mesmo a versão apenas a combustão mantém bons resultados, com até 12,6 km/l no ciclo urbano. A bateria de 0,76 kWh não permite recarga externa, mas garante rodar em modo elétrico em baixas velocidades e silêncio no trânsito pesado.

No visual, a Toyota joga pelo seguro. O desenho é limpo, sem ousadias, com linhas que não envelhecem rápido. Faróis e lanternas em led, grade escurecida e rodas de até 18 polegadas compõem um conjunto discreto. As dimensões ajudam a explicar parte do posicionamento. São 4,31 metros de comprimento e 2,62 metros de entre-eixos, medidas muito próximas às de um Corolla Cross.

Por dentro, há um esforço claro para se distanciar do Yaris hatch e sedã. Materiais emborrachados nas portas dianteiras, iluminação ambiente e faixa central no painel com costura aparente elevam a percepção. Ainda assim, a economia aparece. A parte superior do painel é rígida e as portas traseiras são mais simples. O conjunto agrada mais pelo projeto e ergonomia do que pelo refinamento.

O motorista encontra painel digital de 7 polegadas e central multimídia de 10 polegadas, com Android Auto e Apple CarPlay sem fio. A presença de botões físicos facilita o uso cotidiano. No banco traseiro, dois adultos viajam bem, enquanto o terceiro sente a limitação de largura. O porta-malas oferece até 400 litros nas versões a combustão e 391 litros nas híbridas.

A lista de equipamentos é um dos pontos mais sólidos, especialmente nas versões XRX. Câmeras 360°, monitoramento de ponto cego, alerta de tráfego cruzado traseiro e teto solar panorâmico fixo ajudam a justificar parte do valor. Desde a versão XRE, o pacote de assistências já inclui frenagem automática de emergência e controle de cruzeiro adaptativo.

O Yaris Cross entrega exatamente o que a Toyota prometeu. Eficiência acima da média, tecnologia híbrida flex e segurança robusta. A dúvida não está no produto, mas no posicionamento. Ao se aproximar dos R$ 190.000, ele deixa de ser apenas um SUV compacto econômico e passa a disputar espaço com modelos maiores e mais potentes. Faz sentido para quem prioriza consumo e previsibilidade. Para os demais, a decisão pede comparação cuidadosa e contas bem feitas.