O Jeep Compass 2026 segue entregando respostas rápidas ao acelerador, bom nível de acabamento e capacidade para enfrentar o asfalto castigado das cidades brasileiras, mas cobra seu preço em consumo, manobras e espaço.
Na faixa dos R$ 195.890, ele continua atraente no primeiro contato, porém exige convivência diária com escolhas que só aparecem depois que o carro vira rotina.
Na virada de 2025, o Compass permanece como um dos SUVs médios mais presentes nas ruas do país, mesmo carregando um projeto que já conhece bem o calendário. Produzido no Brasil desde 2016, o modelo atravessou mudanças de mercado, crises e a chegada de novos rivais sem perder relevância. Entre janeiro e novembro, emplacou quase 55 mil unidades, número que o manteve na vice-liderança do segmento e ajuda a explicar por que ainda ocupa tanto espaço em garagens residenciais, frotas corporativas e estacionamentos de shopping.

A versão Longitude aparece como a mais comum nesse cenário. Não é a mais barata, nem a mais completa, mas costuma ser a escolha de quem busca equilíbrio. Ao entrar na cabine, o motorista encontra um ambiente que passa sensação de robustez e cuidado na montagem. Os bancos de couro sustentam bem o corpo, os comandos estão onde a mão procura e as telas grandes dominam o painel sem parecer excesso. A central multimídia de 10,1 polegadas responde rápido, o painel digital de 10,25 polegadas organiza as informações e o ar-condicionado automático de duas zonas mostra valor em dias de calor intenso, quando a cabine vira um pequeno refúgio.

Os assistentes de condução deixam de ser promessa e passam a atuar no dia a dia. O controle de cruzeiro adaptativo, a frenagem autônoma e o assistente de faixa aparecem em congestionamentos longos e viagens extensas, reduzindo o cansaço do motorista. O conjunto de segurança inclui ainda seis airbags, freio de estacionamento eletrônico com Auto Hold e monitoramento da pressão dos pneus, itens que ajudam a construir uma sensação de controle constante, especialmente para quem roda com família.
Ao sair da vaga e enfrentar o trânsito pesado, o motor T270 mostra seu caráter. O 1.3 turbo entrega 176 cv e 27,5 kgfm de torque, números que garantem saídas sem esforço e retomadas seguras em cruzamentos e vias rápidas. A aceleração até 100 km/h em 10,3 s não transforma o Compass em esportivo, mas evita aquela sensação de peso excessivo comum em SUVs médios. A recalibração exigida pelo Proconve L8, porém, trouxe um atraso perceptível no acelerador, que surge justamente quando o motorista espera resposta imediata, criando um intervalo curto, mas incômodo, entre o comando e a reação.

Na estrada, o comportamento muda de tom. O câmbio automático de seis marchas trabalha de forma suave, o isolamento acústico segura bem o ruído externo e a estabilidade em velocidades mais altas transmite confiança. É um carro que convida a manter o ritmo, chegando aos 206 km/h de máxima sem esforço aparente, e reforça a vocação para viagens longas.

Esse conforto em movimento contrasta com o que acontece no posto. Os números oficiais indicam 7,3 km/l na cidade e 8,6 km/l na estrada com etanol, além de 10,1 km/l e 12,1 km/l com gasolina. No uso urbano, especialmente em trajetos curtos e congestionados, alcançar essas marcas exige paciência, e o consumo passa a fazer parte da conversa mensal de quem depende do carro para trabalhar.

Onde o Compass ainda se destaca é na forma como lida com ruas mal cuidadas. A suspensão, com arquitetura McPherson nos dois eixos, absorve buracos, valetas e lombadas com competência, sem transmitir fragilidade. O vão livre do solo de 20,5 cm e os ângulos de ataque e saída, de 21,5° e 30,7°, ajudam a encarar rampas improvisadas, acessos irregulares e estradas de terra sem aquele medo constante de raspar o assoalho.
O cotidiano, porém, cobra em outros pontos. O diâmetro de giro de 11,3 m exige mais manobras em garagens apertadas e retornos curtos, algo que surpreende para um SUV com apenas 4,40 m de comprimento. A direção elétrica prioriza leveza, mas transmite menos precisão em pisos irregulares, o que fica evidente em vias mal conservadas.

O espaço interno também impõe limites. Com 2,64 m de entre-eixos, o banco traseiro oferece menos conforto para pernas do que muitos esperam, e o porta-malas de 410 litros obriga escolhas em viagens longas ou no uso familiar mais intenso.
Há ainda a questão da revenda, que costuma surgir quando o carro começa a envelhecer na garagem. As campanhas frequentes e os descontos agressivos fazem com que o preço cheio raramente seja o valor pago, e isso se reflete na desvalorização média de 13,8% após o primeiro ano. Para quem troca de carro com frequência, esse número pesa no cálculo e ganha importância frente a rivais que perdem menos valor.

No fim da rotina, o Compass Longitude 2026 se mostra um SUV que agrada no contato diário, mas pede concessões claras. Ele encara bem o asfalto ruim, oferece uma cabine bem resolvida e facilita a vida com tecnologia de segurança. Em troca, exige mais atenção ao consumo, paciência em manobras e organização no uso do espaço. A dúvida que fica não está no catálogo, mas na próxima semana de uso, quando o trânsito aperta, a vaga some e o porta-malas precisa acomodar mais do que ele promete no papel.